O ministro Fábio Faria, das Comunicações, diz que não sabia que o blogueiro Allan dos Santos, foragido da Justiça brasileira, participaria do evento promovido por uma igreja evangélica em Orlando, na Flórida, para a qual ele também fora convidado. “Se eu soubesse que ele iria, não teria comparecido”, afirmou.
Faria mente: não só soube com antecedência como consultou o presidente Jair Bolsonaro a respeito. E ouviu dele o seguinte conselho: é justamente em horas de aperto que não se deve abandonar os amigos. Bolsonaro costuma abandonar, mas no caso de Allan, tem feito tudo o que pode para protegê-lo.
A pedido da Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a prisão de Allan no início de outubro último. Ele é investigado pelo tribunal em dois inquéritos – um sobre a distribuição de fake news, e outro sobre participação em milícias digitais que ameaçam a democracia.
Segundo Alexandre, existe “uma verdadeira organização criminosa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político absolutamente semelhantes àqueles identificados no Inquérito 4.781, com a nítida finalidade de atentar contra a Democracia e o Estado de Direito”.
Allan fugiu para os Estados Unidos com a ajuda do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho Zero Três do presidente da República. Sua extradição depende, porém, do Ministério da Justiça. Ali, o processo avança com a velocidade de um cágado. Cabeças de servidores rolaram porque cobraram maior rapidez.
Fábio Faria e Allan estiveram juntos em Orlando pelo menos duas vezes. Na primeira, discursaram para uma plateia de brasileiros evangélicos que moram na cidade e de pastores que voaram daqui para lá. Na segunda, almoçaram. Faria viajou acompanhado da mulher Patrícia Abravanel, filha de Sílvio Santos, dono do SBT.
A certa altura de sua fala, o ministro disse ao comentar a conjuntura política do Brasil:
“O custo maior pra frente é o custo das pessoas que vão morrer de fome se o comunismo voltar ao Brasil. O Lula não é esse Lula que estão vendendo. Ele vem com um grupo que nunca mais vai querer sair do poder. Vão vir vingativos, com raiva”.
Allan, que falou em seguida, concordou:
“O que eu faria é convencer as pessoas do que o Fábio Faria acabou de dizer. Ou o Brasil mantém o presidente Bolsonaro na presidência, e lutamos para tirar todos esses estupradores, assassinos e ligados ao narcotráfico do Poder, ou não haverá Brasil”. Faria aplaudiu o que disse Allan. Os dois ficaram devendo explicações.
O Lula a que Faria se referiu é o mesmo em quem ele votou duas vezes para presidente e que o levou a votar em Dilma? Afinal, em mensagem postada no Twitter, Faria escreveu: “Mantenho a minha coerência de 2002 e 2006 quando votei em Lula para presidente. Portanto, agora em 2010, voto em Dilma”.
A primeira vez que Faria se elegeu deputado federal foi em 2006 quando Lula se reelegeu presidente com seu apoio. Foi vice-líder do bloco integrado, entre outros, pelo Partido Socialista Brasileiro, Partido Democrático Trabalhista e Partido Comunista do Brasil.
Está no seu quarto mandato consecutivo como deputado. Em 2018, tornou-se evangélico, apoiou Bolsonaro para presidente e se reelegeu. Antes de casar com Patrícia, namorou a atriz Priscila Fantin, a apresentadora Adriane Galisteu e a modelo Sabrina Sato.
A explicação que Allan fica devendo: quais são os estupradores, assassinos e ligados ao narcotráfico que devem ser retirados do Poder “ou não haverá Brasil”?
Com informações da coluna do Ricardo Noblat, no Portal Metrópoles
Foto: Reprodução/Redes sociais
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