Deputado Luis Miranda disse que levou denúncia sobre esquema de corrupção da vacina indiana três meses antes de o MPF descobrir.
O deputado Luis Miranda (DEM-DF), aliado do governo de Jair Bolsonaro, afirmou ter levado, há três meses, a denúncia sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin ao próprio presidente. Segundo o deputado, a reunião ocorreu em março, no Palácio da Alvorada, pouco menos de 30 dias após o contrato ter sido assinado, e Bolsonaro afirmou que encaminharia o caso à Polícia Federal.
Mas apesar do aviso, o Governo Federal seguiu com o negócio no qual prevê pagar por cada dose da vacina um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante seis meses antes: “No dia 20 de março, eu denunciei o esquema para Bolsonaro. Os indícios de corrupção são pesados e muito claros”, disse o deputado Luiz Miranda em entrevista Estadão/Broadcast.
“O presidente viu a gravidade e, naquele momento, falou para a gente: ‘Vou acionar agora o DG (diretor-geral) da Polícia Federal para cuidar do caso’”. A Polícia Federal, por sua vez, informou que “não comenta nem confirma” a existência de investigações.
O contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, é alvo de investigação do Ministério Público Federal (MPF). O preço unitário da dose foi fechado em US$ 15. Seis meses antes, o preço da dose havia sido estimado em US$ 1,34. O deputado disse ter ido ao encontro de Bolsonaro, acompanhado de seu irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, para falar dessa “situação esdrúxula”.
Luis Miranda, inclusive, chegou a publicar em suas redes sociais, naquele sábado, uma foto da reunião com o presidente, afirmando ter ido tratar de combustíveis e vacinas. Em depoimento ao MPF, Luís Ricardo afirmou que recebeu “pressões anormais” para concluir a compra da Covaxin e disse não ter visto esse comportamento em relação a outras vacinas.
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados