Vacina desenvolvida pelo Butantan em parceria com laboratório Chinês Sinovac, CoronaVac vem sendo rejeitada pelos brasileiros por questões que não se justificam
O fenômeno de escolha de vacinas está cada vez mais comum no Brasil; e isso tem feito os brasileiros rejeitarem a imunização com a CoronaVac, por acreditarem que ela “faz menos efeito”. A verdade, no entanto, não é essa. Assim como as outras vacinas, a CoronaVac passou por um rigoroso processo de análise antes de ser aprovada pela Anvisa, um dos órgãos regulamentadores mais exigentes do mundo.
Outro ponto importante que precisa ser esclarecido é que não é possível compará-la com os imunizantes desenvolvidos por outros laboratórios, uma vez que a fase de testes de cada vacina foi feita com um público diferente.
A CoronaVac foi uma das primeiras vacinas que começaram a ser desenvolvidas ainda no ano passado, quando pouco se sabia sobre o novo coronavírus. Sendo assim, no momento em que ela começou a ser testada, o público escolhido para o teste resumiu-se ao de pessoas que trabalhavam na linha de frente contra o vírus; e não no público geral que, naquele momento, ainda estava levando o isolamento social mais a sério.
Sobre a eficácia da CoronaVac
A CoronaVac foi anunciada com uma eficácia geral de pouco mais de 50%. Naquele momento, por não existir outra vacina disponível, muitas pessoas pareciam compreender que, embora a vacina possuísse 50% de eficácia geral, era 100% eficaz contra casos graves, evitando intubações e problemas maiores, como o falecimento do infectado após longos dias intubado numa UTI.
Com o surgimento de novos imunizantes, todavia, as pessoas passaram a “virar” a cara e até a irem embora dos postos de saúde quando recebiam a informação de que iriam ser imunizadas com a vacina desenvolvida do Butantan.
Nem o medo, nem a comparação com outros imunizantes fazem sentido
De acordo com o infectologista Eder Gatti, do Hospital Emílio Ribas, os estudos clínicos da CoronaVac foram diferentes. Como já foi falado acima, o público escolhido foi o de pessoas que estavam extremamente expostas ao vírus em ambientes hospitalares, combatendo a Covid-19 na linha de frente.
Uma pessoa comum e que segue minimamente os protocolos sanitários, dificilmente, estará igualmente exposta quanto quem trabalha diretamente com infectados. E esta é uma das razões pelas quais não podemos comparar a CoronaVac com a Janssen ou Pfizer: os estudos clínicos das duas últimas foram, diferentemente da vacina do Butantan, realizados em pessoas do público geral.
Outra questão importante que deve ser salientada é o tempo entre as duas doses; enquanto a Janssen é de dose única e a Oxford e Pfizer têm um intervalo de três meses entre as doses, a CoronaVac foi testada em um intervalo de apenas 15 dias.
Logo, de acordo com Gatti, “o estudo clínico aqui no Brasil usou o intervalo de duas semanas, foi um intervalo curto entre a primeira e segunda dose, porque, em vacinas, especialmente vacinas inativadas, a resposta pós-segunda dose tende a ser melhor quando o intervalo entre a primeira e a segunda dose é maior”, explica. “Então, por exemplo, se der um intervalo de quatro semanas, é de se esperar que a vacina responda melhor, que a imunogenicidade seja melhor e a imunidade gerada seja mais protetora e até mais duradoura. Essa é uma característica do estudo clínico que pode ser contribuído para essa eficácia geral menor”, conclui.
Foto: Arthur Stabile/UOL
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram