Após eleição, sucessor de Merkel ainda está indefinido

Após eleição, sucessor de Merkel ainda está indefinido

A Alemanha entrou em um período de incerteza após uma eleição apertada, em que os dois maiores partidos do país defendem o direito de governar a maior economia da Europa, o que provoca indefinição sobre quem será o sucessor de Angela Merkel. Liderados pelo ministro das Finanças e vice-chanceler Olaf Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD) é projetado como o vencedor com cerca de 26% dos votos, de acordo com resultados preliminares divulgados pela da Comissão Eleitoral.

Scholz afirmou ontem que iniciaria as negociações para tentar forjar uma aliança tríplice e liderar o governo pela primeira vez desde 2005. Ao mesmo tempo, o líder da União Cristã-Democrática (CDU), Armin Laschet, afirmou que está pronto para entrar em negociações sobre um governo sem o partido mais votado.

Scholz disse que pretende construir uma coalizão com Os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP), afirmando que os alemães votaram para enviar os conservadores de Angela Merkel à oposição após 16 anos no poder. “O que você vê aqui é um SPD muito feliz”, disse Scholz, de 63 anos, aos apoiadores na sede de seu partido em Berlim, segurando um ramo de flores vermelhas e brancas.

A aliança conservadora da União Cristã-Democrata (CDU), de Merkel, e o partido aliado bávaro, CSU, liderada por Armin Laschet, teve cerca de 24% dos votos, o pior resultado de sua história de sete décadas.

Apesar disso, com os resultados tão próximos, Laschet indicou na noite de domingo que faria “todo o possível” para formar ele mesmo uma coalizão governante. Ontem, a liderança conservadora reconheceu ser parcialmente responsável pelo fraco desempenho de seu partido na eleição, mas disse que está pronto para entrar nas negociações de coalizão de qualquer maneira. “Nenhum partido pode obter um mandato claro do governo a partir desse resultado”, disse.

Mas mesmo dentro de seu próprio partido, Laschet enfrentou dúvidas sobre esses planos ontem. “Foi uma decisão clara contra os democratas-cristãos”, disse Michael Kretschmer, o líder democrata-cristão do estado federal da Saxônia. “Acima de tudo, o que é importante para mim agora é que se aceite esta derrota e resulte com humildade”, disse ele, sugerindo que a resposta combativa do partido na noite de domingo definiu “o tom errado” e pode ter refletido uma “atitude geral errada”.

Na sequência da corrida eleitoral alemã aparecem o Partido Verde, em terceiro lugar, com 14,8%, seguido pelo Partido Democrático Liberal (FDP) com 11,5% e a formação de extrema-direita Alternativa para Alemanha (10,3%). Na Alemanha, não são os eleitores que escolhem diretamente o chefe de governo, e sim os deputados, uma vez formada a maioria. Mas desta vez, alcançar a maioria será algo especialmente complicado, pois deve reunir três partidos — a primeira vez que isto acontece desde a década de 1950 — devido à fragmentação do voto.

“Os eleitores falaram muito claramente … Eles fortaleceram três partidos — os social-democratas, os verdes e o FDP — e, portanto, esse é o recado claro que os cidadãos deste país deram — esses três deveriam formar o próximo governo”, disse Scholz.

A recuperação do SPD marca uma tentativa de renascimento dos partidos de centro-esquerda em partes da Europa, após a eleição do democrata Joe Biden como presidente dos EUA em 2020. O partido de oposição de centro-esquerda da Noruega também ganhou uma eleição no início deste mês.

“Começa a partida de pôquer”, destaca a revista Der Spiegel. “Depois da votação, as perguntas essenciais permanecem em aberto: quem será o chanceler? Que coalizão governará o país no futuro?”. Para um país acostumado à estabilidade política após 16 anos sob a liderança firme de Merkel, os próximos meses devem representar um período conturbado.

A chanceler, que não buscou um quinto mandato, permanecerá no papel de interlocução durante as negociações da coalizão que definirão o curso futuro da maior economia da Europa. Tanto Scholz, como Laschet, 60, afirmaram que pretendem ter um governo formado antes do Natal. A Bolsa de Frankfurt também parece acreditar na possibilidade e hoje abriu em alta de mais de 1%.

As ações alemãs subiram ontem, com investidores satisfeitos com o fato de o FDP, pró-negócios, provavelmente se juntar ao próximo governo, enquanto a extrema-esquerda Linke não ter conseguido ganhar votos suficientes para ser considerada parceira da coalizão.

Ontem, Scholz decidiu pressionar os conservadores e afirmou que o lugar deles é a oposição. “A CDU e a CSU não apenas perderam votos, também receberam a mensagem dos cidadãos de que não devem mais estar no governo, e sim na oposição”, declarou o líder social-democrata.

Os alemães “querem uma mudança no governo e […] também querem que o próximo chanceler se chame Olaf Scholz”, disse algumas horas antes. Mas os conservadores, apesar do resultado “decepcionante”, destacaram que também pretendem formar o próximo governo, advertiu Laschet. “Faremos o possível para construir um governo dirigido pela união CDU-CSU”, declarou o candidato democrata-cristão.

Com informações do Portal UOL

Foto: World Economic Forum/Ciaran McCrickard

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