Terceira maior empresa aérea da América do Sul, a Azul tem como objetivo comprar a maior companhia do continente, a Latam Airlines Group, que já é a união da brasileira TAM com a chilena LAN.
Em entrevista ao diário chileno Diario Financiero, o CEO da Azul Linhas Aéreas, John Rodgerson, disse que a companhia aérea elaborou uma proposta para adquirir toda a Latam, não apenas a sua unidade brasileira, como já havia dito publicamente. Com o apoio de alguns credores da Latam, que ainda não foram identificados, a Azul planeja apresentar a sua proposta ao tribunal de falências dos EUA, que supervisiona o pedido de recuperação judicial realizado pela Latam em território americano.
“A América Latina agrupada tem muito valor e mantê-la unida é culturalmente importante e é a melhor opção”, disse Rodgerson. “Acredito que dividir não é do nosso interesse”, conclui. Um porta-voz da Latam se recusou a comentar sobre o plano da Azul de fazer uma oferta pública arrojada e considerada hostil. Além disso, sabe-se que executivos da companhia se manifestaram contra qualquer combinação com a Azul.
A fusão entre as gigantes Azul e Latam tem o potencial de causar grandes impactos à aviação latino-americana. A Latam transportou mais de quatro vezes o tráfego de passageiros da Azul em todo o ano de 2019, o último ano considerado normal antes de a pandemia da covid-19 afetar as viagens aéreas em todo o mundo.
A união entre as companhias aéreas criaria um gigante da indústria controlando metade de toda a capacidade sul-americana – e quase 58% do principal mercado brasileiro – com base nos números de 2019, de acordo com a Cirium, empresa que analisa os dados da aviação global.
A operadora teria unidades operacionais no Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru, e uma rede internacional que se estende da Austrália à Europa, EUA e África do Sul. E iria operar pelo menos 464 aeronaves, que vão desde turboélices ATR a Embraer E-Jet-E2s, Airbus A320neos e Boeing 787s.
A América do Sul está repleta de conversas sobre fusão de companhias aéreas. Há uma discussão sobre uma possível combinação entre a Avianca, que aguarda a decisão dos EUA sobre o plano de reestruturação da empresa; com a low cost chilena Sky Airline, conduzida por dois dos credores da Avianca.
A American Airlines, a maior transportadora internacional para a América do Sul em 2019, está expandindo o seu alcance no continente sul-americano com investimentos na Gol, no Brasil, e na JetSmart, que opera no Chile e Argentina. Em menor escala, a Gol Linhas Aéreas está em processo de aquisição da transportadora regional brasileira Map Transportes Aéreos.
Caso a fusão entre Azul e Latam avance, também haverá grandes implicações para os seus respectivos parceiros internacionais. Enquanto a Azul está alinhada com a United Airlines, que possui uma participação de 8 por cento na companhia brasileira, e com a TAP, de Portugal, a Latam tem parcerias estratégicas com a Delta Air Lines e a Qatar Airways, que detinham participações de 20% e 10%, respectivamente, no grupo chileno antes de sua falência nos Estados Unidos.
Mesmo sem um acordo com a Azul Linhas Aéreas, a Delta e o Qatar enfrentam o risco de seus investimentos serem perdidos pelo processo proveniente do pedido de recuperação judicial da Latam em território americano.
As fusões de companhias aéreas em decorrência da falência mostram-se vitoriosas. Há uma década, o então CEO da US Airways, Doug Parker, estava vendendo os benefícios de uma fusão com a American Airlines, que na época estava se reorganizando após pedir recuperação judicial, apesar da oposição da grande operadora.
A American Airlines então cresceu quase o dobro do tráfego de passageiros da US Airways em sua rede global. Mas todos nós sabemos como isso terminou: a American Airlines e a US Airways anunciaram sua fusão no Dia dos Namorados de 2013, e Parker lidera aquela que é a maior companhia aérea do mundo até hoje.
Na entrevista, Rodgerson falou positivamente sobre a consolidação da indústria e afirmou que a proposta da Azul poderia criar mais valor para os credores da América Latina – que são a chave para o sucesso de qualquer reestruturação de falência – do que o que a Latam propôs até agora.
O texto foi originalmente extraído do site Airline Weelky e traduzido por este portal.
Foto: Williamviper / Ilustração / Visual Hunt
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