Governo brasileiro teme ruptura nas relações bilaterais
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu nesta quinta-feira (19) que uma possível vitória do candidato de extrema-direita Javier Milei nas eleições presidenciais argentinas preocupa o governo brasileiro.
“É natural que eu esteja preocupado”, disse Haddad em entrevista à Reuters. “Uma pessoa que tem como bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um.”
Milei, que é chamado de “Bolsonaro argentino”, já disse em diversas ocasiões que pretende limitar o comércio com o Brasil, chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “comunista raivoso” e afirmar que, em relação ao Mercosul, a Argentina “seguiria seu próprio caminho” caso ele seja eleito.
Haddad lembrou que o Brasil mantém relações amigáveis com chefes de Estado de todo espectro político e que a Argentina é um vizinho e um dos principais parceiros comerciais do país.
“É um vizinho do Brasil, principal parceiro na América do Sul. Então preocupa quando um candidato diz que vai romper com o Brasil. Você fez o quê para merecer esse tipo de tratamento?”, questionou.
Lula tem uma relação pessoal de amizade com o atual presidente argentino, Alberto Fernández, que chegou a visitá-lo na prisão logo depois de ser eleito. O candidato de Fernández é seu ministro da Economia, Sergio Massa, que disputa a preferência dos eleitores com Milei, de acordo com as pesquisas mais recentes.
Em crise econômica severa, a Argentina buscou a ajuda do Brasil para resolver questões como o financiamento de importações, mas as negociações não foram adiante e, agora, às vésperas da eleição, os argentinos terão que esperar o resultado do pleito para ver se é possível alguma solução.
Haddad admitiu que o governo brasileiro trabalhou em quatro propostas que previam garantias para o Brasil aceitar financiar as importações pela Argentina, mas nenhuma conseguiu ir adiante pela impossibilidade ou inabilidade do governo vizinho em cumprir exigências.
“Agora não tem o que fazer. No domingo, nós temos o primeiro turno na Argentina. Ou seja, só depois… E porque também não dá nem tempo. Mesmo que você chegue a um desenho vai ter que esperar o resultado da eleição. Então, é natural que seja assim”, afirmou.
Haddad disse que as propostas brasileiras estão de pé, mas que, a depender de quem irá se eleger, o relacionamento pode ser impossível.
Foto: Washington Costa/MF
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