Economista deixa um legado complexo e influente na economia e política brasileira
Delfim Netto, um dos mais poderosos economistas do Brasil, faleceu na madrugada desta segunda-feira (12.ago.2024), em São Paulo, aos 96 anos. O ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde 5 de agosto devido a complicações em seu quadro de saúde. Delfim deixa uma filha e um neto. Não haverá velório aberto, e o enterro será restrito à família.
O economista foi ministro durante o regime militar, nos governos dos generais Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo. Além disso, atuou como deputado federal e conselheiro de presidentes petistas e de empresários. Entre 1967 e 1973, sob seu comando, a economia brasileira viveu o chamado “milagre econômico”, com o PIB crescendo 85% e a renda per capita dos brasileiros subindo 62%. Delfim tornou-se uma figura central no governo, aparecendo 18 vezes na capa da revista Veja em apenas quatro anos.
Delfim Netto testemunhou e influenciou momentos decisivos da história do Brasil, incluindo a implementação do AI-5, que suprimiu liberdades políticas e deu poder de exceção aos governantes. Ele foi protagonista no milagre econômico, que posteriormente levou à crise do endividamento externo. Participou da Constituinte, criticou o Plano Real e auxiliou o PT a alcançar o poder. Mesmo em idade avançada, continuou contribuindo para o debate econômico, escrevendo artigos acadêmicos em sua máquina de escrever Olympia.
Origem humilde e formação acadêmica
Neto de imigrantes italianos, Delfim nasceu e cresceu no bairro do Cambuci, em São Paulo. Estudante de escola pública com curso técnico em contabilidade, começou sua formação intelectual aos 14 anos enquanto trabalhava como office-boy na Gessy Lever. Estudou economia na USP e prestou concurso público para o Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Na USP, participou de um movimento que revolucionou o pensamento econômico no Brasil, utilizando dados e econometria. Sua tese de doutorado sobre “O Problema do Café no Brasil” tornou-se referência.
A ascensão de Delfim ao poder começou no governo de Costa e Silva. Com gráficos desenhados em cartolinas, ele conquistou a simpatia do general, que o nomeou ministro da Fazenda aos 39 anos. Em seu comando, adotou políticas agressivas de estímulo às exportações e ao crédito, ampliando subsídios e controlando os bancos estatais. Durante o AI-5, sugeriu que o decreto não bastava, defendendo ainda mais poder ao presidente.
O clima entre Delfim e o presidente Ernesto Geisel deteriorou-se, levando à sua nomeação como embaixador em Paris. No governo de Figueiredo, Delfim voltou ao Brasil e assumiu o Ministério da Agricultura, posteriormente derrubando os ministros da Fazenda e do Planejamento para retomar o controle da economia. A crise do endividamento externo levou o Brasil a recorrer ao FMI. Delfim permaneceu no comando da economia até o fim do regime militar, deixando o país com uma inflação anual de 235% e uma dívida quase quatro vezes maior.
Carreira Política e consultoria
Após deixar o governo, Delfim foi eleito deputado federal, onde atuou por cinco mandatos. Como deputado, participou da constituinte e foi crítico das políticas econômicas de diversos presidentes. Apoiou Lula e Dilma Rousseff, mas rompeu com Dilma em 2012.
Foto: Reprodução
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram e mantenha-se informado.