Assassinato de prefeito no interior do RN ocorre em meio a histórico de ameaças e renúncia

Assassinato de prefeito no interior do RN ocorre em meio a histórico de ameaças e renúncia

Marcelo Oliveira, que já havia renunciado ao cargo por temer pela própria vida, é assassinado junto com o pai em ataque envolvendo oito criminosos no RN

O prefeito de João Dias, na região Oeste do Rio Grande do Norte, Marcelo Oliveira, de 38 anos, foi brutalmente assassinado na manhã desta terça-feira (27.ago.2024), em um ataque a tiros que também vitimou seu pai, o ex-vereador Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos. O crime ocorreu durante um evento político na cidade e chocou a população local, evidenciando a escalada de violência política na região.

De acordo com relatos do médico Wagner Martins, que atendeu Marcelo Oliveira no Hospital Regional de Catolé do Rocha, na Paraíba, o prefeito deu entrada na unidade por volta das 12h, inconsciente e com múltiplos ferimentos. Marcelo foi atingido por pelo menos 11 disparos, que acertaram o tórax, abdômen e membros inferiores. Apesar dos esforços médicos para reanimá-lo, ele não resistiu e faleceu por volta das 12h20, após sofrer uma parada cardiorrespiratória.

O ataque foi executado por um grupo de ao menos oito criminosos, que chegaram em dois carros e abriram fogo contra o prefeito e seu pai no bairro São Geraldo, uma área afastada do centro de João Dias. Cápsulas de pistola e de espingarda calibre 12 foram encontradas no local do crime, indicando a brutalidade do atentado. Um dos veículos utilizados pelos criminosos foi encontrado parcialmente queimado em uma estrada carroçável, enquanto o outro foi abandonado na zona rural de Antônio Martins, conforme informou o delegado Alex Wagner, responsável pela investigação.

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A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) mobilizaram equipes para identificar, localizar e prender os responsáveis pelo crime. Diligências foram realizadas nas cidades próximas a João Dias e na divisa com o estado da Paraíba. Dois homens foram presos, mas até o momento não há confirmação se eles têm ligação direta com o assassinato de Marcelo Oliveira e de seu pai.

A morte de Marcelo Oliveira ocorre em um contexto de tensão e violência política na cidade de João Dias, que já vinha sendo marcada por graves ameaças contra o prefeito. Em 2021, Marcelo renunciou ao cargo de prefeito após relatar ao Ministério Público do RN (MPRN) que estava sendo coagido pela então vice-prefeita Damária Jácome de Oliveira e seus irmãos. Segundo a denúncia, Marcelo foi forçado a renunciar sob ameaça de morte, tanto contra ele quanto contra seus familiares. “Eu renunciei pela vida, (…) para poder viver”, declarou o prefeito em depoimento ao MPRN.

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Na época, Damária e seus irmãos, Leidjan e Francisco Deusamor Jácome de Oliveira, foram acusados de extorsão e coação. Leidjan e Francisco morreram em outubro de 2021 durante uma operação policial na Bahia, na qual foram identificados como grandes fornecedores de drogas no Nordeste. Damária, que atualmente é candidata à prefeitura de João Dias, foi condenada por extorsão em 2023, mas recorreu da sentença, mantendo o direito de concorrer ao cargo.

Marcelo Oliveira, que havia renunciado em julho de 2021, conseguiu retornar ao cargo em outubro de 2022 após decisão judicial da desembargadora Maria Zeneide Bezerra, da Segunda Câmara Cível. Ele reassumiu a prefeitura em meio a um cenário de insegurança, com constantes ameaças de morte, mas decidiu continuar sua trajetória política e estava em campanha pela reeleição no momento de sua morte.

O assassinato de Marcelo Oliveira é o segundo homicídio de um prefeito no Rio Grande do Norte em menos de dois anos. Em abril de 2023, o prefeito de São José do Campestre, Joseilson Borges da Costa, conhecido como Neném Borges, foi morto a tiros dentro de sua própria casa. O crime, executado por um líder de facção criminosa, também levantou questionamentos sobre a segurança dos gestores públicos no estado.

Em nota, o Diretório Estadual do União Brasil repudiou o assassinato de Marcelo Oliveira e de seu pai, exigindo que as autoridades investiguem rapidamente o crime e levem os responsáveis à justiça. A morte de Marcelo deixa a cidade de João Dias em luto e revela as perigosas dinâmicas de poder e violência que ainda permeiam a política local.

A investigação segue em curso, com a polícia trabalhando para identificar a motivação do crime e os autores do duplo homicídio. Enquanto isso, a população de João Dias aguarda por respostas e por justiça em meio à tristeza e à indignação pela perda trágica de seu prefeito.

Fotos: Reprodução

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