Operação Puritas: PRFs envolvidos em esquema de tráfico de drogas reclamavam de baixo pagamento

Operação Puritas: PRFs envolvidos em esquema de tráfico de drogas reclamavam de baixo pagamento

Depoimentos e mensagens revelam detalhes de como policiais rodoviários federais e uma ex-namorada participaram de transporte de cocaína para o Comando Vermelho

A cabelereira Suziele Gomes de Oliveira revelou em depoimento à Polícia Federal (PF) a complexa dinâmica de tráfico interestadual de drogas envolvendo agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela detalhou ter realizado quatro viagens a Fortaleza, no Ceará, ao lado do ex-namorado, o PRF Raphael Ângelo Alves da Nóbrega. Além dele, segundo a PF, outro agente também participava do esquema, Diego Dias Duarte. Nessas viagens, a organização criminosa transportou cerca de duas toneladas de cocaína para o Comando Vermelho, segundo a investigação no âmbito da Operação Puritas. O caso foi divulgado pelo portal Metrópoles.

Suziele, presa no dia 7 de novembro, contou que foi convencida por Raphael a participar dos transportes, apesar de ter se surpreendido, considerando o cargo do ex-companheiro. A ex-namorada relatou que foi abandonada por ele após ser flagrada em julho de 2023 com 542 kg de cocaína em Canarana, Mato Grosso. Mesmo sem um advogado presente, Suziele afirmou que se sentia à vontade para colaborar com a PF, explicando que chegou a receber R$ 15 mil por uma das viagens.

Os PRFs Diego e Raphael, presos também pela Operação Puritas, cobravam altos valores pelos transportes, de até R$ 2 mil por quilo de cocaína. Transcrições de mensagens, às quais a PF teve acesso, revelam discussões sobre estratégias e negociações com o chefe da organização criminosa, José Heliomar de Souza, conhecido como Léo. Em áudios de dezembro de 2021, Raphael reclamava do valor “baixo” pago pelo serviço, enquanto Diego concordava que a situação financeira estava difícil. Ainda, o plano de Diego incluía comprar um carro sem placa em Rondônia para facilitar os transportes.

Em uma ocasião, Raphael capotou uma caminhonete com drogas em Mato Grosso, tentando fugir de táxi após o acidente. As investigações apontam que ele já era monitorado na época, lotado na PRF de Natal, Rio Grande do Norte, e teria recebido um Jeep Compass como pagamento pelo tráfico. Na casa de Diego, em Feira de Santana, Bahia, a PF apreendeu um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil em espécie, reforçando as suspeitas de que os agentes operavam um esquema lucrativo.

A Operação Puritas destacou o poder do tráfico organizado, com policiais obedecendo às ordens de Léo, descrito como o mentor da rede criminosa em Porto Velho, Rondônia. As mensagens trocadas demonstram a pressão para manter o fluxo de entorpecentes, inclusive durante o período natalino. Em um diálogo, Raphael chegou a afirmar que o trabalho com Léo abriria novas oportunidades, mas os ganhos financeiros ainda eram vistos como insuficientes para os riscos envolvidos.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Ilustração

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