Estado lidera Nordeste em percentual de inativos na folha e ultrapassa limite da Lei de Responsabilidade Fiscal com 56% de comprometimento da receita
O Rio Grande do Norte figura entre os estados brasileiros com maior participação de aposentados e pensionistas na folha de pagamento. De acordo com o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) do Tesouro Nacional, no primeiro quadrimestre de 2025 o estado destinou R$ 6,24 bilhões para pagamento de inativos de todos os poderes e órgãos, o equivalente a 39% das despesas totais com pessoal. Esse percentual coloca o RN na primeira posição do Nordeste e como o quinto maior do Brasil no impacto da previdência estadual nas contas públicas.
Entre os fatores relacionados ao elevado comprometimento estão o déficit previdenciário mensal estimado em cerca de R$ 150 milhões e o custo aproximado de R$ 450 milhões ao mês para pagar aposentadorias e pensões. Esse déficit precisa ser coberto com aportes diretos do Tesouro estadual, reduzindo recursos disponíveis para investimentos e programas em outras áreas.
O histórico do déficit previdenciário no Rio Grande do Norte inclui saques realizados em gestões anteriores do fundo previdenciário, criado para garantir o pagamento futuro de servidores admitidos após 2005. Em legislaturas passadas, aproximadamente R$ 1 bilhão do fundo foi usado para complementar folhas salariais, gerando impactos nas reservas que poderiam hoje ajudar a reduzir o déficit.

Em 2019, o estado aprovou uma reforma da previdência que implementou mudanças como alíquotas diferenciadas e regras mais rígidas de aposentadoria. Mesmo assim, o déficit previdenciário continua crescendo. O cenário inclui um quadro de servidores ativos envelhecido e dificuldade de reposição de novos funcionários. Devido ao estado ultrapassar o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), há restrições para a realização de novos concursos ou ampliações de quadro em ritmo compatível com o número de aposentadorias.
RN lidera Nordeste em comprometimento com gastos de pessoal
Além do elevado peso dos inativos, o Rio Grande do Norte lidera o ranking nacional de comprometimento com gasto de pessoal. Segundo o RGF do Tesouro Nacional, no primeiro quadrimestre de 2025 o estado comprometeu 56,01% da Receita Corrente Líquida (RCL) apenas com despesas de pessoal do Executivo. Esse percentual supera o limite máximo de 49% definido pela LRF.
O índice inclui salários de servidores ativos, aposentadorias e pensões. Em 2018, o comprometimento chegou a 63,64%, caindo para 50,71% em 2022. No entanto, voltou a subir após elevação do piso do magistério e mudanças na arrecadação de ICMS, fechando 2024 em 57%. Houve uma ligeira redução para 56,01% no primeiro quadrimestre de 2025, mas o índice permanece acima do limite legal, restringindo contratações e novos investimentos.
Dados detalhados da folha de pagamento estadual
As planilhas do Caderno de Gestão de Pessoas do Governo do RN indicam que, em maio de 2025, o estado contava com 114.237 pessoas na folha, sendo 54.007 servidores ativos (47,2% do total) e 60.230 inativos, dos quais 47.353 são aposentados e 12.877 pensionistas.
A folha mensal total em maio foi de R$ 916,38 milhões, registrando aumento de 13,7% em relação ao mesmo mês de 2024 (R$ 805,98 milhões). A média da folha de pagamento nos últimos 12 meses ficou em R$ 848,91 milhões.

Na distribuição por faixas salariais, entre os ativos a maior concentração está na faixa de R$ 5 mil a R$ 7 mil, com 16.799 servidores. Entre os inativos, o maior grupo (11.970) recebe entre R$ 9 mil e R$ 11 mil. Já entre pensionistas, 4.512 recebem valores entre R$ 1 mil e R$ 3 mil.
Maiores folhas por órgãos do Executivo
As secretarias e órgãos com maiores gastos com ativos em maio de 2025 foram:
- Secretaria de Educação: R$ 153,2 milhões
- Secretaria de Saúde: R$ 88,9 milhões
- Polícia Militar: R$ 83,5 milhões
- Polícia Civil: R$ 25,6 milhões
- Secretaria de Fazenda: R$ 18,8 milhões
- Administração Penitenciária: R$ 16,5 milhões
Esses órgãos concentram parte significativa da despesa com pessoal ativo, mesmo com o envelhecimento do quadro funcional e as dificuldades para reposição de servidores.
Medidas para conter crescimento da folha
Para conter o crescimento dos gastos, o governo estadual estruturou leis que limitam a recomposição salarial. Uma delas prevê que a recomposição dos salários dos servidores ativos será limitada ao índice inflacionário permitido pela LRF. Outra legislação define que, a partir de 2026, o crescimento da despesa com pessoal ficará limitado a 80% do crescimento da Receita Corrente Líquida. Por exemplo, se a receita crescer 10%, a folha poderá crescer até 8%.
Essas medidas têm como objetivo reduzir gradualmente o índice de comprometimento e trazer o percentual de volta ao patamar legal, o que não ocorre há décadas no Rio Grande do Norte.
Comparativo com outros estados
Em relação ao comprometimento com inativos no primeiro quadrimestre de 2025, os dados do Tesouro Nacional mostram os seguintes percentuais:
- Rio Grande do Sul: 44%
- Minas Gerais: 42%
- Rio de Janeiro: 42%
- São Paulo: 40%
- Rio Grande do Norte: 39%
Já no gasto total com pessoal (ativos e inativos) como percentual da Receita Corrente Líquida no mesmo período:
- Rio Grande do Norte: 56,01%
- Minas Gerais: 48,81%
- Paraíba: 47,66%
- Acre: 46,99%
- Mato Grosso do Sul: 46,92%
Fotos: Sandro Menezes
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