Presidente enfrenta críticas nas redes, pressão interna no PT e necessidade de reposicionar discurso sobre combate ao crime após ação que deixou mais de 120 mortos
A megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortos em confrontos com o Comando Vermelho, gerou forte impacto político e reação negativa nas redes sociais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Levantamento da Brandwatch mostra que, entre 28 e 30 de outubro, 69% das 306.370 menções ao presidente tiveram tom negativo, enquanto 23% foram positivas e 8% neutras. As publicações alcançaram 510,9 milhões de visualizações e concentraram críticas relacionadas à condução do governo federal diante da crise da segurança pública no estado.
Críticas e percepções digitais
Entre as menções negativas, 34% acusam Lula de “conivência com o crime”, citando a fala em que o presidente afirmou que traficantes seriam “vítimas da sociedade”. Outros 10% criticam a suposta omissão do governo federal e mencionam o debate sobre o pedido de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Já 18% das publicações elogiam o governador Cláudio Castro (PL) e o descrevem como liderança firme no enfrentamento ao tráfico.

As menções favoráveis ao presidente representam 23% do total. Destas, 14% afirmam que o governo do Rio e aliados da direita estariam fazendo “uso político da violência”, e 5% defendem o governo federal, negando o pedido de GLO. A polarização digital se intensificou, com o tema segurança pública dominando o debate online.
Divisões internas e reação do Planalto
No governo Lula, o episódio provocou divisões internas sobre como reagir à operação e à repercussão pública. Relatórios de monitoramento de redes apontaram que a direita passou a dominar o debate digital, levando o Planalto a adotar uma estratégia de resposta rápida para conter o desgaste.

O governo busca neutralizar o grupo de governadores conhecido como “Consórcio da Paz”, formado por lideranças de oposição que prestaram solidariedade a Cláudio Castro e criticaram a postura do governo federal. Lula teria classificado o movimento como “pirotecnia eleitoral” e, em resposta, assinou o Projeto de Lei Antifacção, que endurece penas para líderes do crime organizado e cria o Banco Nacional de Organizações Criminosas.
O Planalto também monitora o impacto político do episódio e montou uma equipe de comunicação e análise de redes para enfrentar críticas de governadores como Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO), citados como possíveis adversários nas eleições de 2026.
Pressão por mudanças na estrutura da segurança
Dentro do PT, cresce a pressão por uma reforma ministerial que recrie o Ministério da Segurança Pública. O ex-ministro José Dirceu e o vice-presidente Geraldo Alckmin defendem que a área seja separada da pasta da Justiça, hoje comandada por Ricardo Lewandowski. A proposta, no entanto, ainda divide o governo e não há consenso sobre o momento político para essa mudança.

O tema da segurança pública voltou a figurar entre as principais preocupações do eleitorado, de acordo com analistas políticos que veem o assunto como central nas próximas eleições. Enquanto a oposição tenta se consolidar como voz do endurecimento penal, o governo busca mostrar que também tem ações concretas para conter o avanço da violência.
Estratégia de comunicação e contenção de danos
Após a repercussão da operação e das críticas, Lula foi orientado por aliados a evitar declarações improvisadas sobre segurança pública. A recomendação, segundo interlocutores, visa impedir que novas falas sejam usadas pela oposição para reforçar a narrativa de leniência com o crime.

O alerta ganhou força depois da polêmica declaração de que “traficantes são vítimas de usuários”. Apesar da retratação, o trecho segue sendo explorado por adversários políticos. Desde então, o presidente restringiu suas manifestações ao tema por meio de postagens oficiais e pronunciamentos controlados.
Nas redes sociais, Lula vem destacando medidas como o Projeto de Lei Antifacção, que prevê até 30 anos de prisão para integrantes de facções criminosas, e a PEC da Segurança Pública, que busca ampliar a cooperação entre União, estados e municípios.
Enquanto o governo tenta reposicionar seu discurso, o Consórcio da Paz, liderado por governadores de oposição, mantém-se ativo na agenda pública. O Planalto encomendou novas pesquisas de percepção popular para avaliar os impactos da operação e o efeito do tema sobre a imagem presidencial.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília / Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil / Ricardo Stuckert/PR
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