Editorial POR DENTRO DO RN

A saúde pública no Rio Grande do Norte chegou a um nível inaceitável de colapso. Na última sexta-feira (31), dois pacientes morreram à espera de leito de UTI: o antenista Erberson Kleber Clementino, de 43 anos, em Santa Cruz, e o aposentado Agenor Tomaz Pereira, de 91, em Pendências. Esses dois casos são tragédia, mas também símbolo claro da falência administrativa que se instalou no setor sob o governo de Fátima Bezerra (PT).
Erberson havia sido internado no Hospital Municipal de Santa Cruz e uma decisão judicial já determinava sua transferência para o leito de UTI. Mesmo assim, a vaga não chegou a tempo. Enquanto isso, Agenor aguardava em Pendências, já em idade avançada, sem o cuidado intensivo que poderia lhe dar alguma chance. Essa dolorosa realidade mostra que o RN não aguenta mais discursos de “régua de cristal” ou justificativas burocráticas.
Gestão ausente, população penalizada
A secretaria estadual de saúde (Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte – Sesap) afirmou que trabalha com ampliação de leitos — quase dobrou a quantidade desde 2018 — mas os resultados não chegam à ponta. Todo anúncio de leitos novos contrasta com mortes evitáveis em municípios do interior. Um Estado que se vangloria de “ter mais de 294 leitos de UTI” (entre próprios e contratados) continua a perder vidas por falta de regulação, infraestrutura e logística.
Os dois óbitos recentes escancararam o descaso: espera de horas – ou dias –, decisões judiciais ignoradas, ausência de transporte, regulação lenta, hospitais sem equipamentos ou equipes adequadas. Esse tipo de falha não é acidente; é reflexo de uma liderança que não governa, mas apenas anuncia. A governadora Fátima Bezerra, que tem sob seu guarda-chuva a Sesap, é diretamente responsável por esse estado de coisas. O governo estadual não pode alegar “herança” indefinidamente.
Impacto humano, política irresponsável
São vidas humanas: Erberson, profissional ativo, com 43 anos de vida pela frente; Agenor, idoso, que já deveria estar descansando. O governo, porém, age como se essas pessoas fossem estatísticas banais em relatórios perfeitos. Um governador ou governadora sério defende os pacientes tanto quanto inaugura hospitais. Aqui, vemos inaugurações, discursos, notas oficiais – mas também vemos fila, morte, indignação.
A política da saúde exige priorização, urgência e transparência. Mas o que se vê são decisões lentas, falta de divulgação de dados corretos, regulação que parece atropelada. A Sesap em resposta recente tentou justificar a demora pela “limpeza” dos leitos ou regulação complexa, mas isso soa como desculpa quando vidas se apagam por falta de leito.
A crise na saúde pública do RN não é problema de fachada: é problema de falta de comando, de falta de prioridade e de falta de respeito com a vida humana.
Foto: Marcello Casal Jr. ABr/Ilustração
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