Estado tem o terceiro maior número de pacientes à espera de córnea no Nordeste e baixo volume de cirurgias realizadas, segundo a ABTO
Fila por transplante de córnea no RN ultrapassa 600 pessoas e espera chega a três anos
O Rio Grande do Norte ocupa o terceiro lugar no Nordeste em número de pessoas à espera por transplante de córnea, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). O tempo médio de espera para o procedimento é de aproximadamente três anos, enquanto outros estados da região registram prazos bem menores.
Segundo dados da ABTO, 647 pacientes aguardavam pela cirurgia no estado entre janeiro e junho deste ano. O número é inferior apenas ao da Bahia (1.640) e de Pernambuco (1.447). No mesmo período, o RN realizou apenas 80 transplantes de córnea, um dos índices mais baixos da região. No Ceará, por exemplo, foram quase 700 procedimentos no primeiro semestre, com tempo médio de espera de cerca de um mês.
Falta de doadores e falhas na notificação de óbitos
Profissionais da área de transplantes apontam que o problema vai além da escassez de doadores. Um dos principais desafios é a falta de notificação de óbitos pelos hospitais, o que impede a realização de entrevistas com familiares e a captação de córneas dentro do prazo necessário.

De acordo com a Central de Transplantes do RN, ligada à Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), o processo de captação deve ocorrer em até seis horas após o óbito. A ausência de comunicação tempestiva entre as unidades de saúde e o sistema de transplantes tem comprometido o aproveitamento de córneas viáveis.
Pandemia e baixa notificação ampliaram a fila de espera
O Banco de Olhos do RN, instalado no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), é responsável pela captação, avaliação e armazenamento das córneas doadas. A coordenação da unidade aponta que a pandemia da Covid-19 foi um dos fatores que contribuíram para o aumento da fila.
Durante os anos de 2020 a 2022, as captações foram reduzidas ou paralisadas em função das restrições sanitárias. Mesmo após a retomada, o processo permaneceu limitado devido às regras de segurança impostas aos procedimentos de doação. Como consequência, o número de pacientes em lista de espera cresceu de forma significativa.
Causas culturais também impactam o número de doações
Além dos entraves estruturais, profissionais que atuam em transplantes de córnea no RN relatam que questões culturais também interferem na doação. O olho humano é um órgão com forte valor simbólico, e há resistência por parte de alguns familiares em autorizar a retirada do tecido.

Essa barreira cultural é apontada como um dos motivos pelos quais o número de doações de córnea no estado ainda é reduzido, mesmo com a ampliação das campanhas de conscientização sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.
Organização e distribuição das córneas doadas
A Central de Transplantes do RN é responsável por organizar a fila de espera e distribuir os tecidos disponíveis. No caso das córneas, a ordem de prioridade é determinada pelo tempo de inscrição do paciente na lista e pelas características do tecido compatível.
Para que o sistema funcione de forma adequada, é essencial que todos os hospitais públicos e privados notifiquem imediatamente os óbitos à Central de Transplantes, permitindo que a equipe responsável entre em contato com os familiares e realize os procedimentos de avaliação e captação dentro do prazo legal.
Situação atual e apelo à conscientização da população
O Hospital Universitário Onofre Lopes concentra cerca de metade dos transplantes realizados no estado, e o Banco de Olhos mantém ações permanentes de incentivo à doação voluntária de córneas. Apesar disso, o número de cirurgias realizadas ainda é insuficiente para reduzir de forma significativa o tempo de espera dos pacientes.
Enquanto o estado enfrenta desafios relacionados à estrutura hospitalar, logística de notificação e conscientização pública, profissionais de saúde reforçam a importância da participação da população para ampliar as doações e reduzir o impacto da fila de espera no Rio Grande do Norte.
Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília / Gabriel Jabur/Agência Brasília/Ilustração
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram e mantenha-se informado.







