Documento pede ordem democrática e direitos humanos, enquanto Lula defende solução diplomática
Presidentes e ministros de seis países do Mercosul divulgaram, no sábado (20), um comunicado conjunto pedindo o restabelecimento da ordem democrática e o respeito aos direitos humanos na Venezuela. O documento foi tornado público à margem da 67ª Cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu (PR), e não contou com a assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem de representantes do governo brasileiro.
O comunicado foi emitido em nome dos presidentes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Panamá, José Raúl Mulino, além de autoridades de alto escalão da Bolívia, Equador e Peru. No texto, os signatários afirmam que a democracia, os direitos humanos e as liberdades fundamentais são pilares da integração regional e defendem uma solução pacífica para a crise venezuelana.

A declaração manifesta preocupação com a crise humanitária, social e migratória enfrentada pela Venezuela e relembra que o país foi suspenso do Mercosul em razão da ruptura da ordem democrática. O documento também solicita o fim de desaparecimentos forçados e prisões arbitrárias, além do respeito ao devido processo legal.
O texto divulgado não menciona a escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela, nem o aumento da presença militar norte-americana na região. O tema também não foi abordado na declaração final oficial da Cúpula do Mercosul.
Durante o encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que uma eventual intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela representaria uma “catástrofe humanitária” e um “precedente perigoso”. Já o presidente argentino Javier Milei manifestou apoio à pressão exercida pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump sobre o governo de Nicolás Maduro.
Além das discussões políticas, a cúpula foi marcada por debates sobre os rumos econômicos do Mercosul. Ainda sem conseguir concluir um acordo com a União Europeia, os países do bloco discutem a diversificação de parcerias comerciais. Em discurso durante a plenária, Lula afirmou que há negociações em andamento com países como Japão e Vietnã.

Segundo Lula, líderes europeus solicitaram mais tempo para decidir sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia, que está em negociação há 26 anos. A expectativa inicial era de que o tratado fosse assinado durante a cúpula, que marcou o encerramento da presidência rotativa brasileira do bloco, agora assumida pelo Paraguai pelos próximos seis meses.
O adiamento foi atribuído, entre outros fatores, à pressão do governo francês, que tem se posicionado de forma contrária ao avanço do acordo. Lula informou ainda ter recebido uma carta dos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, António Costa, manifestando expectativa de aprovação do tratado em janeiro.
Durante a plenária, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, lamentou a não conclusão do acordo. Já o presidente argentino Javier Milei voltou a fazer críticas ao Mercosul, afirmando que os objetivos da união aduaneira não foram atingidos e que há excesso de burocracia interna, o que teria dificultado avanços como o acordo com a União Europeia.
Divergências entre Brasil e Argentina sobre Venezuela
A abertura da 67ª Cúpula do Mercosul evidenciou divergências entre Brasil e Argentina em relação à crise na Venezuela e ao papel dos Estados Unidos na região. Em discursos consecutivos, Lula e Milei adotaram posições distintas sobre o tema.
Na condição de anfitrião, Lula condenou a presença militar norte-americana no entorno da Venezuela e defendeu o diálogo diplomático como forma de evitar uma escalada do conflito. O presidente brasileiro afirmou que tem mantido conversas com Nicolás Maduro e com Donald Trump, colocando o Brasil à disposição para mediar uma solução.

Em seguida, Milei classificou o governo venezuelano como uma ditadura e afirmou que a Argentina apoia a pressão exercida pelos Estados Unidos. Segundo ele, o momento exige medidas firmes, e não negociações.
Em discurso posterior, Lula reiterou que uma intervenção armada na Venezuela representaria uma catástrofe humanitária e um risco ao direito internacional. O presidente afirmou que as ameaças à soberania dos países se manifestam por meio de conflitos armados, forças antidemocráticas e do crime organizado, e voltou a defender o diálogo como alternativa para evitar um confronto entre Venezuela e Estados Unidos.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil / Ricardo Stuckert/PR
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