Editorial POR DENTRO DO RN

A agressão denunciada pelo jornalista Ronny Holanda, que acusa auxiliares da gestão Allyson Bezerra (União Brasil) de espancamento e abuso de autoridade, é mais do que um episódio lamentável. É um sinal de retrocesso civilizatório e um ataque direto à liberdade de imprensa, valor essencial de qualquer democracia.
Segundo o relato do jornalista, ao tentar falar com o secretário municipal de Segurança, Walmary Costa, foi agredido pelas costas por um servidor identificado como “sub Nilton” e, posteriormente, algemado por guardas municipais. O mais grave: a agressão teria ocorrido dentro das dependências públicas da secretaria, sob ordens diretas de um gestor que deveria ser o primeiro a garantir a integridade e o respeito à lei.
Mesmo que as investigações venham a esclarecer os fatos — o que se espera de imediato —, nenhuma justificativa plausível pode amparar a violência contra um jornalista em pleno exercício profissional.
A Constituição Federal é clara: o trabalho da imprensa é essencial à democracia. Agredir um repórter é atentar contra o direito da sociedade à informação.
Um silêncio cúmplice
O que também causa espanto é o silêncio do prefeito Allyson Bezerra diante da gravidade do episódio. Nenhum afastamento foi anunciado, nenhuma sindicância tornada pública, nenhuma palavra de repúdio ou solidariedade.
O silêncio, neste caso, soa como conivência. E conivência, vinda de quem comanda a cidade, tem peso político e moral.
É inaceitável que uma gestão municipal, que se orgulha de pregar “modernidade e eficiência”, feche os olhos para a barbárie praticada dentro da própria estrutura pública.
Uma cidade que persegue jornalistas não é moderna — é autoritária.
Liberdade de imprensa sob ataque
A agressão a Ronny Holanda não é um caso isolado. Em tempos de polarização e de intolerância, a liberdade de imprensa tem sido testada e atacada com frequência.
Mas o que choca em Mossoró é que os agressores não são criminosos comuns — são agentes públicos, que representam a autoridade do Estado.
Quando o poder público se transforma em instrumento de intimidação, o dano é ainda mais profundo: destrói a confiança da sociedade e fragiliza os pilares da democracia.
A nota que não explica — e agrava
A nota divulgada pelo secretário Walmary Costa apenas aumenta a perplexidade.
Em vez de se defender das acusações de espancamento, ele tenta inverter a narrativa, alegando “desacato” e “invasão de área restrita”.
Mesmo que houvesse desentendimento, o uso da força física e da prisão arbitrária é inadmissível.
A tentativa de justificar a violência revela um despreparo preocupante para o exercício de uma função pública.
Um governo que precisa escolher entre transparência e arrogância
Nos últimos meses, a gestão Allyson Bezerra vem sendo alvo de críticas crescentes: desde denúncias de favorecimento político até uma comunicação institucional cada vez mais personalista e centralizadora.
O episódio da agressão ao jornalista expõe o lado autoritário de uma gestão que, ao invés de diálogo, tem recorrido ao silêncio e à força.
A prefeitura de Mossoró deve respostas — e rápidas.
Deve afastar imediatamente os envolvidos, garantir apuração independente e reafirmar seu compromisso com a liberdade de expressão.
Caso contrário, permanecerá manchada por um dos atos mais graves que um governo pode cometer: calar a imprensa pela violência.
Democracia se protege com transparência
Este episódio não é apenas sobre um jornalista agredido — é sobre o que Mossoró quer ser como cidade.
A escolha é simples, mas decisiva: uma cidade democrática e aberta à crítica, ou uma cidade comandada pelo medo e pelo autoritarismo.
Foto: Lucas Bulcão/Secom/PMM
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