Editorial POR DENTRO DO RN

A prefeita de Parnamirim, Nilda Cruz (Solidariedade), voltou a adotar um tom vitimista ao afirmar que sofre “perseguição política” e que a oposição tem sido “injusta” com sua gestão. A declaração, dada em entrevista à Rádio Cidade nesta terça-feira (28), soa desconectada da realidade e repete uma narrativa de campanha que já não convence — especialmente após quase um ano de mandato.
Nilda foi eleita com a promessa de romper velhas práticas políticas e de colocar a cidade “nos trilhos do desenvolvimento”. Entretanto, Parnamirim segue enfrentando graves problemas estruturais, especialmente nas áreas de saúde, transporte e mobilidade urbana – setores que, ironicamente, foram bandeiras de sua campanha.
A prefeita afirma que as dificuldades são “heranças do passado” e que está “resolvendo todos os dias”. No entanto, o cotidiano dos moradores mostra um cenário bem diferente: postos de saúde com filas e falta de médicos, transporte público irregular, engarrafamentos crescentes e obras de infraestrutura paradas. Parnamirim, terceira maior cidade do Rio Grande do Norte, parece estacionada – e o discurso da prefeita já não encontra eco nas ruas.
É preciso lembrar: a eleição acabou em 2024. O tempo do palanque passou. O eleitor de Parnamirim não elegeu uma candidata para culpar antecessores, mas sim uma gestora capaz de apresentar resultados.
Nilda tem a caneta na mão, conta com maioria na Câmara Municipal, possui aliados em secretarias estratégicas e mantém boa relação com o governo estadual. Ou seja: ela governa em condições políticas favoráveis – o que torna insustentável o discurso de “perseguição”.
Nos bastidores, inclusive, há relatos de tensões internas na gestão. Secretários insatisfeitos, dificuldade de comunicação entre pastas e centralização excessiva de decisões na própria prefeita são sinais de uma administração que ainda não encontrou ritmo. Faltam planejamento, prioridades claras e, sobretudo, humildade política para reconhecer erros.
É natural que um governo enfrente críticas, especialmente em uma cidade complexa e populosa como Parnamirim. Mas transformar toda discordância em “perseguição” é empobrecer o debate e desrespeitar o papel fiscalizador da oposição, da imprensa e da sociedade civil.
A prefeita, que construiu sua trajetória como professora e líder comunitária, conhece bem o peso da responsabilidade pública. Por isso, soa contraditório que agora, no poder, recorra ao argumento de que é “injustiçada” por ser mulher, negra e vinda da classe trabalhadora. Essas características são motivo de orgulho e representatividade – não escudo contra cobranças legítimas.
O povo de Parnamirim não quer justificativas. Quer resultados. Quer uma prefeita que olhe para frente, e não para o retrovisor.
Se há algo que a prefeita precisa entender é que governar exige maturidade política e responsabilidade administrativa. O discurso de vítima pode render aplausos de aliados, mas não sustenta uma gestão. A cidade precisa de uma líder que resolva, e não de uma retórica que lamente.
Parnamirim é hoje uma cidade com imenso potencial econômico, cercada por universidades, base aérea, centros industriais e um comércio vibrante. O que falta é uma administração que entenda a grandeza do município e governe com seriedade e técnica.
Por isso, é hora de Nilda Cruz sair do palanque e assumir plenamente o papel de prefeita. Ela foi eleita para governar – e não para continuar disputando narrativas com fantasmas políticos do passado.
A paciência da população tem limites. E, se nada mudar, 2028 chegará mais rápido do que a prefeita imagina – e com ele, o julgamento mais implacável de todos: o das urnas.
Foto: Reprodução/Redes Sociais
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