Fluxo da Vida

Ana Beatriz Amorim sobre amigo

O Dia do Amigo e Internacional da Amizade foi comemorado na última terça-feira, 20 de julho. Fiquei a pensar sobre o que escrever para homenagear a data. Várias ideias surgiram, várias ideias foram embora. Até que recordei de uma reflexão recente a respeito do fluxo da vida e as amizades: amigo é uma coisa que a gente perde ao longo da vida.

Encontramos vários, nos apegamos a alguns e, a certa altura, somos forçados a colocar o prefixo ex antes do nome daquele que enchia nosso coração de carinho e de certeza. Perder um amigo para a vida, quando não por uma fatalidade, é uma dor tão dilacerante quanto. A gente pensa que amizade é para sempre, que, quando a gente for velhinho e lembrar de tudo que aconteceu, estarão perto de nós aqueles que a gente escolheu como a família do coração.

Mas a vida tem dessas decepções. Uma hora é você que sai de cena. Em outra, a vontade é daquele que te dava toda certeza do mundo de que ficaria ali. A primeira vez em que eu tive que tornar um amigo ex-amigo, senti uma dor que acabou comigo. Fiquei sem entender, chorei, chorei. Por um tempo, foi difícil acreditar de novo na beleza, na simplicidade e nas diversas nuances de uma amizade.

Optei por deixar a amargura de lado e seguir em frente, ainda com esperança de que aquela dor eu não sentiria mais. Novas amizades vieram, as que importavam de verdade permaneceram. Prometi não sentir aquela dor de novo, não daquele jeito. Mas outras dores apareceram para mostrar que a vida é assim mesmo, por mais que a gente se pergunte se já não teve a nossa cota.

O bom é que dor ensina. E depois que a gente sente uma que parte o coração em mil pedacinhos, aprende a relativizar as outras. E, melhor ainda, renova o olhar diante dos amigos de sempre, aqueles por quem a gente sente todo o amor do mundo e em quem temos a sorte de encontrar reciprocidade.

Vi dia desses alguém mascarado nesses tempos de pandemia que outrora foi grande amigo. Na calçada oposta, num álbum antigo de fotos ou num perfil atualizado. Foi ele, mas poderia ter sido ela, ou eles. Foram tantos, já. Pessoas que passam por nossas vidas por alguns dias, às vezes anos até, e depois evaporam. Perdemos os contatos, os laços. Certas vezes mais o segundo do que o primeiro, já que, com a infinidade de meios para nos comunicarmos hoje em dia, maneiras de se achar velhos conhecidos é que não faltam. Mas nem sempre podemos, ou queremos.

As pessoas mudam, seres humanos evoluem, eu envelheço. Estranho ver alguém que, em certa época da vida, já foi confidente, de trocar segredos, de abraçar apertado, de ligar pra pedir favor e emprestar consciência. E hoje é um desconhecido. Alguém que vejo em imagens recentes e não reconheço o olhar, alguém que vejo num novo círculo de amigos e não há traço familiar. Alguém que já soube de minhas dores, risos e desamores, das minhas rimas cafonas, das inseguranças noturnas e paixões oblíquas. Mas uma pessoa que hoje nem mais o nome me soa próximo mas já fez parte de alguma história, da minha vida. De mim.

Há uns meses, estou numa onda de rever todos os meus relacionamentos, incluindo as amizades, e fico muito triste quando paro para pensar em quem antes era melhor amigo e hoje eu nem sei mais. Fico pensando o que está fazendo da vida, que caminhos está trilhando, quais escolhas teve de fazer… essas coisas. E é triste quando a gente percebe que muitos se foram para nunca mais voltar, apesar de sabermos que isso faz parte da vida, e que muitas novas amizades ainda virão. Tenho pensado nesse fluxo da vida E como tudo se torna um grande aprendizado sobre o outro e, principalmente, sobre nós mesmos. Vida que segue. 

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Sobre Ana Beatriz Amorim, colunista do portal Por Dentro do RN

Ana Beatriz Amorim

Ana Beatriz Amorim tem 34 anos, é jornalista e designer gráfica formada pela UnP. Também é fotógrafa, licenciada em Artes Visuais pela UFRN e especialista em Assessoria de Comunicação. Adepta da teoria do faça uma coisa de cada vez e seja múltipla, escreve a respeito do cotidiano, artes, cultura e esporte. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.

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