Por Ana Beatriz Amorim
Para o Por Dentro do RN
Quem sabe dizer o que dói mais: a causa pelo motivo que se partiu, a solidão que fica ou a do adeus a alguém importante na sua vida? Para mim, esse último é o mais difícil de sarar. Dói no verão, dói no inverno, dói de dia, de noite, em datas que seriam especiais. Toda morte é dolorosa, porque vem cheia de “se”, de “ah…”.
Quando ela não é natural, você pensa: onde eu estava que não pude impedir? Se é trágica, você esbraveja: por que, meu Deus, o que essa pessoa fez para merecer isso? Quando é de morte morrida, de velhice, ainda não sei dizer. Só sei que é automático pensar em tudo que a gente não disse, em tudo que poderia ter sido feito, em tudo que a gente ainda queria fazer na companhia daquela pessoa tão querida.
Minha garganta ainda fecha quando encontro as fotos do último Natal e lembro da sensação que tive ao notar sua alegria. Algo tinha mudado. Foi a mesma sensação daquela última quinta feira em que estive conversando e brincando com ela em pleno leito de UTI. Na sexta-feira, o brilho dela tinha mudado.
Estava mais fraca, se apagando. Lamento de não ter sido a primeira a dizer o orgulho que sentia em tê-la na minha vida. Que prazer eu sentia ao atender seus desejos, sempre tão singulares, tão seus. Um registro fotográfico aqui, outro texto ali e assim pude contribuir com o conhecimento que ela me proporcionou.
Que alento eu sentia ao me espremer na cama dela para assistir novela e ainda ganhar cafuné na cabeça ou até mesmo para assistirmos juntas o especial do Roberto Carlos. Quanta graça eu achava nas suas manias – ou até mesmo dela nunca ter entendido ao certo o real funcionamento do louco universo dos que trabalham com jornalismo, assessoria de comunicação e design gráfico.
Eu queria ter sido mais paciente. Ter dado mais alegrias, mais um beijo e um abraço. Queria ter dito, mais vezes, como ela era, e é importante para mim – e é tanto que até me surpreendo, descubro aos poucos. Irônica é essa vida: uma saída de casa até o plantão hospitalar tirou ela de minha convivência diária; um acidente no caminho que fizemos tantas e tantas vezes deixou a ausência dela mais dolorida, mais difícil.
Espero do fundo do meu coração que você, mainha ou para muitos que a conheceram, Conceição Amorim que, com tantos erros e acertos, será sempre meu maior exemplo. O meu exemplo de amor pela vida. Aprendi com ela que, em vez de dizermos adeus, devemos fazer com que todas as pessoas importantes de nossa vida saibam o quanto são importantes enquanto elas estão aqui.
Falta de tempo é a grande desculpa do século XXI. Todo mundo tem tempo para fazer mil coisas ao mesmo tempo, mas nem sempre consegue encontrar um amigo para tomar um café ou bater um papo. Você deixa para depois, se justifica, remarca e um dia e *pluft*, aquele seu amigo ou aquele parente querido que você deixou de ver no último mês pode não estar mais ali. E você vai viver um longo período pensando em verbos no tempo condicional.
Então, meus amigos, evitem dizer adeus. E insistam em olhar para os olhos de quem vocês amam, mostrando, falando, abraçando, demonstrando de alguma forma que o seu coração só é seu coração porque tem um pedaço de cada um ali.
Ainda não aprendi a me livrar da saudade para viver tranquilamente. E desconfio que nunca vou aprender. Mas pelo menos já sei uma coisa valiosa: é impossível se livrar da memória. Você não pode se livrar daquilo que amou. Isso tudo vai estar sempre com a gente. Sempre vamos desejar recuperar o lado bom da vida e esquecer e desnutrir a memória do lado mau. Desfazer as lembranças das pessoas que nos magoaram, eliminar as tristezas e as épocas de infelicidade.
É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para a nossa sorte, a saudade possa se transformar, de uma coisa depressiva e triste, numa pequena faísca que nos impulsione para o novo, para nos entregar a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas será diferente. E isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar a vida na solidão, encontrar alguém, entregar-nos um pouco, evitar a rotina, desfrutar a nossa parte da festa diária que é viver.
Foto: Ilustração/Paulo Magalhães/Flickr
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Sobre Ana Beatriz Amorim, colunista do portal Por Dentro do RN
Ana Beatriz Amorim tem 34 anos, é jornalista e designer gráfica formada pela UnP. Também é fotógrafa, licenciada em Artes Visuais pela UFRN e especialista em Assessoria de Comunicação. Adepta da teoria do faça uma coisa de cada vez e seja múltipla, escreve a respeito do cotidiano, artes, cultura e esporte. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.