Maio Furta-cor levanta debate sobre saúde mental das mães

Maio Furta-cor levanta debate sobre saúde mental das mães

Psicóloga destaca importância do autocuidado e do reconhecimento individual para manter o bem-estar emocional

No mês de maio, o Dia das Mães é a data comemorativa que se destaca e movimenta a sociedade: são compras de presentes, homenagens e encontros em família. Entretanto, o mês como um todo carrega uma campanha importante para o grupo, o Maio Furta-cor, que visa sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna.

A psicóloga Marina Costa, responsável técnica pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Estácio Natal, aponta que os cuidados com o bem-estar emocional das mães são de extrema importância porque essas mulheres muitas vezes estão em um contexto de cansaço, sobrecarga e abdicação da sua individualidade em função do bem-estar dos filhos.

Segundo Marina, um dos motivos que aflige essas mães é fruto da pressão social depositada na figura materna, que carrega a alcunha de “super-mulher”. “Nas redes sociais, existem perfis quase como tutoriais do que fazer, como fazer, é como se houvesse um manual que, na prática, não existe. Cada mãe tem uma personalidade, um histórico familiar e a autocobrança acaba sendo mais nociva do que benéfica neste processo, porque antes de ser mãe, se é ser humano que não pode ser perfeito sempre”.

Todo esse contexto afeta as mães desde a gravidez, principalmente para aquelas de primeira viagem. “Tudo que é novo pode assustar, então é importante que essa mãe busque uma rede de apoio, tome os cuidados com a saúde em geral, inclusive com o acompanhamento médico no pré-natal, para que ela possa manter seu autocuidado na alimentação, com exercício físico e nas relações afetivas de forma saudável dentro do que for possível, para que esse processo seja levado da melhor forma e sem cobranças”, orienta a especialista.

E após o parto? Segundo estudo da Fiocruz, em cada quatro mulheres no Brasil, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período do puerpério – de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê. A psicóloga aponta que o quadro pode vir de (ser provocado por) um acúmulo dos sentimentos não elaborados durante a gravidez, ou antes.

“A depressão pós-parto não é sobre o bebê, é sobre como a mãe se sente nesse período após reprimir seus sentimentos ao longo da gestação. Muitas vezes é o acúmulo em cima de uma questão que já existia antes com a autocobrança de dar o seu melhor para o filho, então tem um histórico. Não é uma rejeição sobre o bebê, mas como ela se sente diante de tudo e que nunca foi cuidado”, explica.

Por isso, é importante o filtro do que vem de fora, diz a psicóloga. Enxergar quem se é e o que se pode fazer. “É uma carga muito grande e agora muitas pessoas, felizmente, têm desconstruído isso de ser guerreira, de dar conta de tudo não só sobre o papel mãe, mas sobre ser mulher em geral, porque está tudo bem não dar conta de tudo, somos humanos. É um exercício diário tirar esse peso de nós mesmos”, disserta.

Marina alerta que é comum ouvir de pacientes mães que elas fazem tudo pelos filhos, mas acabam se perdendo de si mesmas em um período de muitas mudanças e desgastes físicos que é a maternidade. “Às vezes, o que se precisa é de tempo para si mesmas, se permitir contar com a ajuda de alguém próximo, um familiar ou amigos que possam disponibilizar tempo para criar relações com a criança enquanto a mãe faz algo sozinha e cuida de si”.

A questão perpassa também por problema público, como aponta a especialista. “Muitas mulheres não têm essa rede de apoio, não existem creches públicas em período integral, por exemplo. Então, não só em maio, é importante ver o lado da mãe em um cenário que todos os olhares estão direcionados para a criança. Ela também precisa de ajuda”, afirma.

Maternidade na terceira idade

Outra angústia que atinge o grupo é a Síndrome do Ninho Vazio, um quadro de melancolia que as mães podem enfrentar ao ter que lidar com a partida dos filhos adultos de casa.

“Muitas mães trazem para a consulta que quando o filho sai de casa, a vida perde o sentido, a casa é vazia. É como se aquela mulher atribuísse o sentido da vida para viver em função dos filhos e não compreendesse a própria existência sem ele”, descreve a psicóloga.

A orientação neste caso é que a mulher encontre atividades com que se identificam e que tragam prazer. “Muitas vezes são atividades que elas faziam antes e pararam, hidroginástica, crochê, por exemplo”, exemplifica Marina “É importante trazer à tona a possibilidade de novos vínculos com amizades ou outros familiares, sem depender da frequência de visita dos filhos porque o mais saudável é valorizar aquela pessoa que existe e que tem outras vivências, independente da idade porque cuidar de si é pra toda vida”.

Foto: Divulgação

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