Estudantes de escola pública do RN levam projeto de robótica desenvolvido para solucionar desafios locais aos EUA
O destaque apresentado na competição foi o Rover, um carro robótico idealizado pela dupla com foco na realidade do semiárido potiguar
Uma ideia nascida no sertão do Rio Grande do Norte ganhou o mundo. Ana Luísa e Anne Louise, alunas da Escola Estadual de Tempo Integral Dr. José Fernandes de Melo, em Pau dos Ferros (RN), foram selecionadas entre mais de 1.500 jovens para representar o Brasil em uma das mais importantes competições internacionais de ciência e robótica, a Genius Olympiad (Olimpíada dos Gênios, em tradução livre), realizada nos Estados Unidos. Elas foram as únicas representantes do Estado entre os participantes da edição deste ano e chegaram até lá com o projeto Redescobrindo a Caatinga, uma iniciativa com forte protagonismo juvenil, em especial feminino, que transforma os desafios do território em soluções tecnológicas e sustentáveis.
O destaque apresentado na competição foi o Rover, um carro robótico idealizado pela dupla com foco na realidade do semiárido potiguar: seu diferencial é ter a capacidade de transitar em terrenos pouco acessíveis a carros comuns, sendo, assim, uma opção viável para o deslocamento e a exploração da região da caatinga, área com muitos terrenos irregulares.
Construído em colaboração com colegas e com suporte técnico da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), o projeto inova ao aplicar robótica a um contexto local. Além do desenvolvimento do protótipo, as estudantes produziram um artigo científico em inglês, apresentado durante o evento, no último dia 11 de junho de 2025.
Durante a visita aos Estados Unidos, as estudantes também foram recebidas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), considerada a melhor universidade do mundo segundo o QS Award, University of Rankings. A visita ao MIT representou um marco simbólico e inspirador para as jovens pesquisadoras, consolidando o reconhecimento internacional do trabalho desenvolvido na escola pública brasileira.
“Esse projeto mostra que nossos alunos têm potencial para criar tecnologia de ponta a partir da realidade em que vivem. Mesmo com poucos recursos, eles provam que a ciência pode nascer no sertão e chegar ao mundo. Ver duas meninas do interior do Rio Grande do Norte apresentando uma solução tecnológica no MIT é a confirmação de que investir em educação pública de qualidade transforma vidas”, afirma a professora Jacicleuma de Oliveira Lima, coordenadora dos projetos na escola.
Do nordeste para os EUA: uma jornada que conecta saberes e culturas
A seleção de Ana Luísa e Anne Louise para representar o Rio Grande do Norte na competição foi resultado de um processo criterioso, com prova objetiva, desafios técnicos e entrevistas. Em janeiro, elas participaram de uma imersão preparatória com estudantes norte-americanos, onde compartilharam experiências e aprofundaram o trabalho em equipe.
“Nunca imaginei que um projeto da nossa escola pudesse chegar tão longe. Estar entre tantos estudantes de outros países é assustador e incrível ao mesmo tempo. Ficamos com o coração cheio de orgulho”, diz Ana Luísa.
Anne reforça o sentimento: “É incrível pensar que tudo começou aqui em Pau dos Ferros, com uma ideia nossa. A gente quer mostrar que tem muita gente inteligente e criativa no interior também.”
Para a professora Jacicleuma, ver as alunas nos EUA foi emocionante, mas também resultado de um trabalho coletivo e contínuo. “A gente sabe das dificuldades, mas também acompanha de perto o quanto eles são capazes. Esse projeto mostra que, quando o estudante é escutado e levado a sério, ele voa. E ver duas meninas do Alto Oeste levando uma ideia para fora do país… é de arrepiar.”
Educação integral como plataforma de futuro
Mais do que uma conquista individual, o projeto das estudantes é um exemplo de como a ciência pode nascer da escuta atenta aos problemas do território. O Rover não é apenas um protótipo: é uma resposta concreta aos desafios da região da caatinga, criada por quem vive essa realidade. Ao levarem essa proposta para um dos maiores centros de inovação do mundo, Ana e Anne reafirmam que o sertão também é lugar de conhecimento, criação e futuro.
A trajetória das alunas mostra como a escola pública, quando apoia a criatividade dos estudantes, pode mudar realidades. Em uma rede que aposta no Ensino Médio Integral, com expediente escolar de 7 a 9 horas, os estudantes, além de terem tempo, são estimulados a desenvolver projetos que articulam teoria e prática. Ao incentivá-los a pensar propostas para as demandas do próprio território, aliam conhecimento a propósito e pertencimento.
Iniciativas como essa mostram aos adolescentes que eles podem transformar a realidade da sua comunidade. Por isso, também rompem barreiras simbólicas, permitindo que meninas do interior do Rio Grande do Norte se reconheçam como autoras, cientistas e agentes de mudança.
Sobre o Ensino Médio Integral
O Ensino Médio Integral é uma proposta pedagógica de educação interdimensional, moderna, nacional, pública e gratuita. A partir de uma modalidade de ensino que se conecta à realidade dos jovens e ao desenvolvimento de suas competências cognitivas e socioemocionais, propõe a formação integral dos estudantes. Trabalha pilares como projeto de vida, aprendizado na prática, tutoria estudantil, protagonismo juvenil, acolhimento, orientação de estudos e eletivas, que promovem a formação completa do estudante, junto aos componentes curriculares já previstos na BNCC. Está presente em cerca de 6 mil escolas em todo o país, beneficiando mais de 1 milhão de estudantes.
Foto: Divulgação
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