Famílias relatam desespero com a falta de material na rede pública e o alto custo para aquisição
A crise no fornecimento de bolsas de colostomia na rede pública de saúde do Rio Grande do Norte atinge diretamente a vida de pacientes em Natal, que se veem obrigados a improvisar alternativas precárias e arriscadas para gerenciar suas condições de saúde. Nesta segunda-feira (9.jun.2025), um grupo de pacientes e familiares realizou um protesto em frente ao Centro Estadual de Reabilitação e Atenção Ambulatorial Especializada (CRI-RN), cobrando da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) a regularização imediata da distribuição dos insumos essenciais. As denúncias apontam para a descontinuidade no fornecimento desde o mês de abril.
As informações e entrevistas foram concedidas ao portal g1 RN, e divulgadas nesta terça-feira (9).

A Sesap, por sua vez, refuta a alegação de falta total em abril, afirmando que as entregas ocorreram durante todo aquele mês, e que a escassez de alguns tipos de bolsas começou a ser sentida a partir de maio. A pasta informou ainda que está em fase final de um processo de compra dos materiais, visando a retomada plena das entregas o mais rápido possível. No entanto, a realidade vivida pelos pacientes contrasta com as informações oficiais, evidenciando um cenário de vulnerabilidade e preocupação.
Para a dona de casa Leila Tavares, a falta de bolsas de colostomia na rede pública se transformou em um pesadelo diário. Sem condições financeiras para arcar com os altos custos do material, ela foi forçada a recorrer a uma solução perigosa e insalubre: a utilização de sacos plásticos, semelhantes aos usados em padarias e supermercados para recolher pães. A situação é agravada pelo fato de que a antiga bolsa que utilizava não serve mais, devido ao aumento da colostomia, e o tamanho adequado não está disponível na rede pública.

A improvisação com sacos plásticos expõe Leila a riscos sérios de infecção, já que o material não é estéril e não possui a tecnologia necessária para conter e isolar os dejetos de forma segura. A necessidade de trocas frequentes, por vezes várias vezes ao dia, aumenta a probabilidade de contaminação e lesões na pele ao redor do estoma. “É complicado porque eu posso pegar uma bactéria. Eu sou uma mãe de família, vivo batalhando. E quem é que vai arcar com minhas coisas? Tem outros colegas que também não estão recebendo bolsa. Tem para uns, e outros faltam”, desabafou Leila, visivelmente abalada.
A condição da colostomia, que Leila precisou realizar para tratar uma infecção intestinal, já a priva de uma vida normal. A dor e o desconforto são constantes, e a falta de materiais adequados a impede de sair de casa, comprometendo sua autonomia e interação social. “Tem tempo que machuca. Fica doendo, incomoda, não é uma vida normal. Então que eles vissem esses negócios dessas bolsas que a gente precisa, somos seres humanos, a gente paga nossos impostos para isso e estamos passando por uma situação dessa”, clamou a dona de casa, em um apelo por dignidade e assistência.
O operador de caixa Daniel Carlos compartilha da mesma angústia. Usuário de bolsa de colostomia há três anos, em decorrência de uma infecção grave, ele também tem sido obrigado a adquirir o material por conta própria desde que o fornecimento pela rede pública cessou. O custo é exorbitante para um orçamento familiar: a caixa mais barata das bolsas, que dura em média um mês, custa cerca de R$ 520. Este valor representa um fardo financeiro considerável, forçando Daniel e tantos outros pacientes a fazer escolhas difíceis e sacrificar outras necessidades básicas para garantir sua saúde.
“É muito difícil, preocupante, e até mesmo aterrorizante. Alguns tem como se virar, e outros não tem. E com isso a gente acaba meio que um ajudando o outro. Um recebe doação dali e sai passando pro outro. E assim a gente vai levando”, descreveu Daniel, ilustrando a rede de solidariedade que se forma entre os pacientes para mitigar a ineficiência do sistema público. A situação expõe a fragilidade da saúde de muitos cidadãos, que dependem exclusivamente do Estado para ter acesso a tratamentos e insumos que garantem sua sobrevivência e qualidade de vida.
Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi / Arquivo/POR DENTRO DO RN/Ilustração / Stéf -b/Pexels
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