Ex-comandante da Marinha e Jair Bolsonaro depõem nesta terça-feira em fase crucial da investigação
O Supremo Tribunal Federal (STF) dá continuidade, nesta terça-feira (10.jun.2025), à série de interrogatórios dos réus do núcleo 1 da investigação sobre a suposta trama golpista que teria ocorrido durante o governo de Jair Bolsonaro. A sessão, iniciada às 9h, marca o segundo dia de depoimentos de figuras centrais apontadas pela Polícia Federal (PF) como envolvidas nos planos para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022.
O primeiro a ser ouvido hoje é o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier. As investigações da Polícia Federal apontam que Garnier teria colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro para ações com características golpistas. Essa fala do militar, segundo as apurações, teria ocorrido durante uma reunião em 2022 com os comandantes das Forças Armadas. Na ocasião, Bolsonaro teria apresentado estudos para a decretação de estado de sítio e de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), visando barrar a posse de Lula.

Após o depoimento de Almir Garnier, os demais réus serão interrogados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, seguindo a ordem alfabética. A previsão é que a audiência se estenda até as 20h.
A lista de depoimentos desta terça-feira inclui nomes de destaque do governo Bolsonaro:
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, general de Exército e ex-ministro de Bolsonaro
O primeiro dia de interrogatórios: Cid e Ramagem
O primeiro dia de interrogatórios, realizado na segunda-feira (9), trouxe à tona detalhes sobre as acusações de participação na suposta trama golpista. Foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.

Mauro Cid confirmou durante seu depoimento que esteve presente em uma reunião onde foi apresentado ao ex-presidente Jair Bolsonaro um documento que previa a decretação de medidas de estado de sítio e a prisão de ministros do STF. O militar também confirmou que recebeu dinheiro do general Braga Netto, que seria repassado ao major do Exército Rafael de Oliveira, integrante dos “kids-pretos”, um esquadrão de elite da força. Essas informações corroboram partes das investigações da Polícia Federal sobre o planejamento e a articulação dos atos.

Por outro lado, Alexandre Ramagem negou em seu depoimento ter utilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente a rotina de ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o governo de Jair Bolsonaro. A negação de Ramagem contrapõe as acusações de uso da estrutura de inteligência do Estado para fins políticos e ilegais.
A fase final da ação penal e as possíveis consequências
Os interrogatórios dos réus são uma das últimas fases da ação penal que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado. A expectativa é que o ministro Alexandre de Moraes ouça presencialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Braga Netto e mais seis réus até a próxima sexta-feira (13.jun). Todos são acusados de integrar o “núcleo crucial” de uma trama para impedir a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o resultado das eleições de 2022.
A fase de interrogatórios é um momento decisivo para a defesa e a acusação apresentarem suas versões dos fatos, com os réus tendo a oportunidade de se manifestar diretamente sobre as imputações que pesam contra eles. Após esta etapa, o processo se encaminhará para o julgamento final.
A expectativa é de que o julgamento, que decidirá pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus, ocorra no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas previstas para os crimes investigados, como abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, podem ultrapassar 30 anos de prisão. A investigação tem gerado grande repercussão e é um marco na história recente do Brasil, acompanhada de perto pela sociedade e pela imprensa. A resolução do caso terá implicações significativas para a política e a justiça brasileiras.
Foto: Gustavo Moreno/STF / Fellipe Sampaio/STF
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