Ex-presidente e seu ex-vice depõem como réus por suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022; ambos rejeitam acusações e contestam depoimento de Mauro Cid
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general da reserva Walter Braga Netto prestaram depoimentos nesta terça-feira (10.jun.2025) ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado para reverter o resultado das eleições de 2022. Ambos são réus no núcleo 1 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que apura a existência de uma articulação golpista com apoio de militares e integrantes do governo à época.
Os depoimentos foram conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. A ação está em uma das últimas fases antes do julgamento que poderá decidir pela condenação ou absolvição dos envolvidos, previsto para o segundo semestre deste ano.

Durante a audiência, Jair Bolsonaro negou a existência de qualquer plano de golpe de Estado em seu governo. Ao ser questionado sobre uma minuta de decreto que previa estado de sítio e a prisão de ministros do STF, Bolsonaro afirmou que a proposta nunca foi discutida oficialmente e que seria danosa ao país.
“Da minha parte, nunca se falou em golpe. Golpe é abominável. O golpe até seria fácil começar. O afterday é imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia passar por uma experiência dessa”, disse Bolsonaro.

O ex-presidente também negou ter feito qualquer alteração em uma minuta golpista, como afirmou Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, em depoimento anterior. De acordo com Cid, Bolsonaro teria enxugado o texto e sugerido incluir a prisão de ministros, entre eles o próprio Alexandre de Moraes.
Sobre as urnas eletrônicas, Bolsonaro reiterou sua defesa pelo voto impresso, mas disse que nunca agiu fora da legalidade. “Em nenhum momento eu agi contra a Constituição. Joguei dentro das quatro linhas o tempo todo”, afirmou.
Questionado sobre uma suposta oferta de tropas por parte do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, Bolsonaro refutou: “Em hipótese alguma. Não existe isso. Não tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida para fazer qualquer coisa.”

Em outro momento do depoimento, o ex-presidente pediu desculpas por declarações anteriores nas quais sugeriu que ministros do STF estariam envolvidos em corrupção para fraudar o processo eleitoral. “Me desculpe, não tinha essa intenção de acusar qualquer desvio de conduta”, afirmou.
Bolsonaro também negou ter pressionado o ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira para produzir um relatório que questionasse a integridade das urnas eletrônicas. “Jamais eu pressionei. Não houve pressão em cima dele para fazer isso ou aquilo.”
Ainda segundo o ex-presidente, ele não foi alvo de voz de prisão durante reunião com os comandantes das Forças Armadas em 2022, contrariando o depoimento do ex-comandante da Aeronáutica Baptista Júnior, que alegou que o general Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro no encontro.
Braga Netto nega entrega de dinheiro e tentativa de interferência em delação de Mauro Cid
Também ouvido como réu no processo, o general Walter Braga Netto negou ter repassado dinheiro a Mauro Cid dentro de uma sacola de vinho, como declarou o ex-ajudante de ordens. Segundo Cid, os valores seriam destinados ao financiamento de ações ligadas ao plano golpista. Braga Netto respondeu de forma direta: “Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid.”
O general também rejeitou a acusação de ter procurado o pai de Mauro Cid para obter informações sobre o conteúdo da delação premiada. De acordo com ele, foi o general Lourena Cid quem o procurou em busca de apoio político ao filho. “Eu nunca entrei em contato com ele e perguntei nada sobre delação premiada”, afirmou.

Sobre possíveis ataques virtuais coordenados contra os ex-comandantes das Forças Armadas, Braga Netto negou envolvimento. Durante as investigações, foram encontradas mensagens em que ele teria incentivado apoiadores a criticar os generais Freire Gomes e Baptista Júnior. Segundo ele, nunca houve ordem nesse sentido: “Eu jamais ordenei ou coordenei ataques. Se tivesse que falar com eles, falaria pessoalmente.”
Braga Netto está preso desde dezembro de 2024, acusado de tentar obstruir as investigações. Seu depoimento foi o último da fase de interrogatórios dos réus do núcleo principal do inquérito, que também inclui nomes como Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira.
O desfecho do caso dependerá do julgamento que será realizado pelo STF nos próximos meses.
Foto: Fellipe Sampaio/STF
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