Tecnologia sustentável utiliza taninos naturais para reduzir turbidez da água e pode substituir produtos químicos em estações de tratamento
Um grupo formado por sete cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um floculante natural à base de extrato de castanhola com aplicação no tratamento de água. A tecnologia foi criada para atuar na fase de floculação, uma das etapas do processo de purificação, em que partículas suspensas na água se agrupam para facilitar sua remoção.
A invenção foi orientada pela professora Tatiane Kelly Barbosa de Azevêdo Carnaval, da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), localizada em Macaíba. Atualmente, Tatiane realiza um pós-doutorado em Portugal, onde conduz experimentos adicionais sobre a composição química do extrato, com foco em compostos fenólicos e taninos.
Produto natural e eficiente
De acordo com a equipe, o produto é capaz de reduzir a turbidez da água em até 96,67%, mantendo o pH dentro dos parâmetros legais e sem causar acidificação, como ocorre com alguns coagulantes comerciais. Além disso, a alternativa natural reduz a formação de lodo e aumenta a durabilidade dos equipamentos utilizados em estações de tratamento.

A base da formulação é a casca da Terminalia catappa, conhecida como castanhola, uma espécie amplamente distribuída em áreas litorâneas. O material foi coletado nas dependências da EAJ/UFRN, onde foi processado, seco e moído até atingir a granulometria adequada. As amostras de água utilizadas para os testes foram extraídas de um açude localizado na escola e aumentadas com sedimentos barrentos para garantir maior turbidez nas análises.
Testes e patente
Os testes foram conduzidos no Laboratório de Produtos Florestais Não Madeireiros e os resultados foram comparados com um coagulante químico disponível no mercado. O coagulante natural, segundo a professora Tatiane, mostrou-se igualmente eficiente na precipitação de proteínas e partículas orgânicas.

A modificação química dos taninos, por meio de um processo de cationização, foi responsável por aprimorar a estrutura molecular do floculante, aumentando sua eficiência na agregação de partículas suspensas.
A tecnologia foi premiada na categoria Produções Científicas do Prêmio Inovação das Águas Potiguares, promovido pelo Instituto de Gestão das Águas do RN (Igarn), em 2024. A patente foi registrada no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) sob o título “Coagulante à base de taninos extraídos de Terminalia catappa, seu processo de obtenção e seu uso para remoção da turbidez de água”.
Pesquisa premiada e equipe multidisciplinar
O trabalho foi desenvolvido com a colaboração de sete cientistas: Tatiane Kelly Carnaval, Luan Cavalcanti da Silva, Denys Santos de Souza, Paula Evanyn Pessoa do Nascimento, Kayo Lucas Batista de Paiva, João Gilberto Meza Ucella Filho e Alexandre Santos Pimenta.
Segundo Luan Cavalcanti, mestrando à época do desenvolvimento da pesquisa, a proposta amplia as possibilidades de uso sustentável de produtos florestais não madeireiros e abre caminho para novas aplicações da biodiversidade nativa no saneamento ambiental.
Sustentabilidade e próximos passos
Os pesquisadores destacam que coagulantes naturais e biodegradáveis vêm ganhando espaço nos centros de pesquisa como alternativas aos produtos químicos convencionais. Além de eliminar resíduos potencialmente tóxicos, esses produtos não poluem o lençol freático e não oferecem riscos à saúde humana.
Atualmente, os prototipados dos taninos cationizados estão em forma de pó. A equipe segue trabalhando na análise da vida útil em prateleira, nos métodos de extração e na escala de produção, com o objetivo de viabilizar a aplicação comercial da solução.
Fotos: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram e mantenha-se informado.







