Por Thiago Martins – thiagolmmartins@gmail.com
Mobilidade em Pauta

O principal eixo turístico e de mobilidade de Natal, a Avenida Engenheiro Roberto Freire, segue em meio a impasses quanto à gestão de suas faixas exclusivas de ônibus. Implantadas em outubro de 2020 com o objetivo de dar mais agilidade ao transporte coletivo, as vias hoje sofrem com falta de manutenção, indefinição de competências entre os órgãos públicos e atrasos constantes, impactando diretamente milhares de passageiros todos os dias.
Para o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (SETURN), a situação compromete não apenas a eficiência do transporte coletivo, mas também a imagem turística da cidade.
“A descontinuidade na manutenção e a indefinição de competências entre os órgãos públicos enfraquecem essa política urbana, prejudicando diretamente milhares de passageiros e afetando também a imagem turística da cidade. É preciso aplicar, de forma coordenada, os instrumentos previstos em lei, assegurando que os investimentos em infraestrutura de mobilidade tragam retorno social imediato”, afirmou Augusto Costa Maranhão Valle, coordenador jurídico do SETURN.
Cobrança por coordenação
Segundo o SETURN, é fundamental que os corredores estruturantes da capital, como a Roberto Freire, sejam tratados como ativos estratégicos de desenvolvimento urbano, capazes de integrar turismo, economia e inclusão social. O sindicato reitera que está disposto a colaborar com o poder público para que a gestão seja unificada e efetiva.
Atualmente, Natal possui 50,23 km de faixas exclusivas. A STTU administra 40,96 km, enquanto os 9,27 km restantes — que incluem a Av. Roberto Freire e a Ponte Newton Navarro — estão sob responsabilidade do DER-RN e do Dnit. Essa fragmentação, segundo especialistas, explica a falta de padronização e manutenção.
Divergências entre órgãos
A STTU já manifestou interesse em assumir a gestão integral da Roberto Freire, alegando que a municipalização garantiria maior agilidade nas respostas às demandas locais. Hoje, a secretaria fiscaliza apenas os trechos que administra, utilizando agentes, videomonitoramento e serviços de sinalização.
O DER-RN, responsável direto pela Roberto Freire, informa que sua atuação se limita a obras de pavimentação, recapeamento e tapa-buracos, transferindo a responsabilidade de fiscalização ao CPRE. Já o Dnit esclarece que sua competência se restringe às rodovias federais, sem responsabilidade direta sobre a operação das faixas de ônibus.

Enquanto o impasse permanece, o Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana (CMTMU) discute propostas para expandir o sistema de faixas exclusivas em outras áreas da cidade, como a BR-101, o trecho entre o Centro Administrativo e o Natal Shopping, e a requalificação da Av. Nevaldo Rocha, com investimento estimado em R$ 24,6 milhões.
Faixas como política pública
O Plano Diretor de Natal e a Política Nacional de Mobilidade Urbana estabelecem como diretriz a priorização do transporte coletivo e dos modais ativos, assegurando eficiência e segurança nos deslocamentos. Para especialistas, quando bem geridas, as faixas exclusivas não apenas reduzem o tempo de viagem e aumentam a confiabilidade do transporte coletivo, mas também contribuem para diminuir gastos com subsídios tarifários.
O desafio agora é garantir que a Roberto Freire, vitrine turística da cidade, não se torne símbolo da desarticulação entre os órgãos responsáveis.
Fotos: Divulgação/SETURN

Sobre Thiago Martins, colunista do Por Dentro do RN
Thiago Martins é jornalista formado pela UFRN e há 15 anos dedica-se ao estudo e à cobertura do setor de mobilidade urbana. Escreve sobre o tema desde o início da carreira, colaborando com portais de notícias especializados e acompanhando de perto as transformações na mobilidade ativa, no setor de transportes e na infraestrutura urbana. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.
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