MPRN move ação civil pública contra Humana Saúde por interrupção de terapias para crianças com autismo

MPRN move ação civil pública contra Humana Saúde por interrupção de terapias para crianças com autismo

Plano de saúde descredenciou clínicas em Natal, gerando desassistência e filas de espera; Ministério Público pede indenização de R$ 1 milhão

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN) ajuizou uma Ação Civil Pública por danos morais coletivos contra a operadora Humana Saúde Nordeste Ltda. O motivo da ação é a interrupção das terapias essenciais para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), resultado do descredenciamento abrupto de clínicas especializadas que prestavam serviço aos beneficiários do plano.

A ação foi protocolada pelas Promotorias de Defesa do Consumidor e da Pessoa com Deficiência de Natal. O MPRN requer a condenação da operadora ao pagamento de uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 1 milhão, que deve ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos. O objetivo da medida é reparar o abalo social causado e servir como inibidor para práticas semelhantes por outras operadoras de planos de saúde.

Descredenciamento e falta de alternativa equivalente

A investigação que originou a Ação Civil Pública começou após denúncias apresentadas por famílias de pacientes e pela Associação Brasileira de Apoio à Pessoa com Deficiência (ABAPED). Os relatos indicaram que a Humana Saúde descredenciou, entre junho e julho de 2024, as clínicas Cliap, Reability Center e Polaris, sem garantir uma substituição equivalente para o atendimento das crianças com TEA.

O inquérito civil conduzido pelo MPRN apurou que, com o descredenciamento, a operadora de plano de saúde concentrou os atendimentos na clínica própria Janela Lúdica. Contudo, um laudo técnico elaborado pela Central de Apoio Técnico Especializado do MPRN (CATE/MPRN) concluiu que a clínica própria não possui estrutura suficiente nem a diversidade terapêutica equivalente às clínicas descredenciadas.

O relatório do CATE/MPRN evidenciou a redução no número de terapias oferecidas, a formação de filas de espera para agendamento, e a substituição de sessões individuais por atendimentos coletivos. Tais fatores configuram a desassistência a um público considerado hipervulnerável e prejudicam a continuidade dos tratamentos, que são cruciais para a evolução clínica de pessoas com TEA.

Violação de normas e legislação do autismo

O MPRN sustenta que a conduta da Humana Saúde violou uma série de normas consumeristas e regulatórias. Entre as infrações citadas, está o descumprimento das Resoluções Normativas nº 566/2022 e nº 567/2022 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as quais tratam da obrigatoriedade de substituição equivalente de prestadores de serviço em casos de descredenciamento.

Adicionalmente, o Ministério Público aponta a violação do Código de Defesa do Consumidor e da Lei nº 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde).

A ação judicial enfatiza, ainda, que as leis federais específicas para a proteção dos direitos das pessoas com deficiência foram infringidas. O MPRN ressalta a importância da Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) e da Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão). Ambas as leis impõem às operadoras o dever de assegurar o atendimento contínuo e equivalente às pessoas com deficiência.

Para crianças com TEA, este dever é considerado fundamental, pois a evolução de seu quadro clínico depende de terapias precoces, intensivas e ininterruptas. O trabalho conjunto do MPRN, abrangendo as esferas judicial, administrativa e regulatória, visa garantir que a saúde suplementar respeite o direito das pessoas com deficiência e mantenha a continuidade terapêutica.

Medidas administrativas e descumprimento de liminares

Além do ajuizamento da Ação Civil Pública, o MPRN encaminhou representações à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ao Procon Municipal de Natal. O objetivo dessas representações é solicitar a instauração de processos administrativos para a apuração e aplicação de sanções às irregularidades cometidas pela operadora Humana Saúde.

O Ministério Público também trouxe à tona que diversas decisões judiciais individuais já reconheceram a irregularidade da conduta da Humana Saúde. Essas decisões determinaram a retomada imediata dos tratamentos nas clínicas descredenciadas, com destaque para a clínica Cliap. No entanto, o MPRN colheu relatos de descumprimento de liminares e a persistência de filas de espera, o que configura reiterado desrespeito ao direito fundamental à saúde e à dignidade da pessoa humana dos beneficiários.

A Humana ainda não se pronunciou sobre a situação. O espaço segue aberto para eventual nota da operadora.

Foto: Arquivo/POR DENTRO DO RN/Ilustração

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