Por Thiago Martins – thiagolmmartins@gmail.com
Mobilidade em Pauta

Apesar do otimismo da presidente da estatal, técnicos e empresários apontam problemas como filtros entupidos e queda de potência em veículos
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta quinta-feira (23) que a empresa está preparada para elevar a mistura de biodiesel no diesel para 25% (B25), conforme previsto na Lei do Combustível do Futuro (Lei 14.993/2024).
“Para chegar a 25% de mistura de biodiesel no diesel nós estamos a postos. A Petrobras é capaz de fornecer um diesel com 10% de conteúdo vegetal, estável… a única forma de perceber a diferença entre os dieséis é por meio do teste de carbono 14”, declarou Chambriard durante o 10.º Fórum CNT de Debates, em Brasília.

Atualmente, o percentual obrigatório é de 15% (B15). A nova lei estabelece que a mistura possa variar entre 13% e 25%, mas condiciona mudanças ao estudo técnico e regulatório realizado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
Questionamentos técnicos e operacionais
Apesar do discurso institucional, setores automotivo e energético já vêm alertando para os riscos que altas proporções de biodiesel podem trazer aos motores. Entre os problemas apontados:
- Entupimento de filtros e formação de borras: o biodiesel tem tendência maior à oxidação e absorção de água, o que facilita a formação de resíduos que prejudicam o sistema de injeção e filtros;
- Queda de potência e eficiência: estudos indicam que ao elevar a mistura de biodiesel, veículos podem perder desempenho real e efetivo, exigindo mais combustível para o mesmo trabalho. Um estudo da UnB mostrou que ao passar de 7% para 20% de biodiesel houve aumento das emissões específicas de CO₂ em razão da redução da potência efetiva do motor.
- Aumento nos custos de manutenção: empresas de transporte relatam maiores custos com limpezas, uso de aditivos, troca de componentes sensíveis à borra e contaminação, especialmente em veículos mais antigos.
- Desafios de compatibilidade entre frotas: muitos veículos em circulação não foram projetados para suportar misturas elevadas de biodiesel, o que pode gerar incompatibilidade, corrosão de componentes, maior desgaste de bombas e vedadores.
O ICCT (um instituto internacional de transporte e poluição) já alertava que misturas acima de 10% tendem a aumentar emissões de NOₓ e causar incompatibilidade em veículos sem adaptações.

Além disso, há insurgência no setor de combustíveis quanto ao controle regulatório. O setor de biodiesel no Brasil vem pedindo maior fiscalização e transparência diante do risco de fraudes e adulterações à medida que o percentual de mistura se eleva.
Pressões e cautelas na regra de política energética
Embora a lei permita até 25%, a aplicação do novo percentual depende de estudos contínuos de viabilidade técnica e econômica. O CNPE deverá autorizar cada avanço conforme impactos em frotas e cadeias produtivas.
Já houve casos em que o Brasil adiou a mudança de 15% para 16% por dificuldades técnicas e econômicas.
Especialistas defendem que o aumento da mistura deve ser gradual e com critérios de exceção para veículos mais sensíveis, além de exigir aditivos que estabilizem o biodiesel, controle de qualidade no abastecimento e acompanhamento de frotas durante a transição.
Foto: UnitedSoybeanBoard/Visualhunt/Ilustração / Fernando Frazão/Agência Brasil

Sobre Thiago Martins, colunista do Por Dentro do RN
Thiago Martins é jornalista formado pela UFRN e há 15 anos dedica-se ao estudo e à cobertura do setor de mobilidade urbana. Escreve sobre o tema desde o início da carreira, colaborando com portais de notícias especializados e acompanhando de perto as transformações na mobilidade ativa, no setor de transportes e na infraestrutura urbana. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.
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