Operação Dissimulo apura fraudes em contratos de serviços terceirizados; grupo investigado tem vínculos com a administração pública
A fuga de dois detentos da Penitenciária Federal de Mossoró, registrada em fevereiro de 2024, desencadeou investigações sobre possíveis fraudes em licitações. A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) apuram irregularidades em contratos de terceirização de serviços, resultando na deflagração da Operação Dissimulo nesta terça-feira (11.fev.2025).

A ação policial cumpriu 26 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal. Segundo a CGU, a investigação teve início após a reavaliação de contratos relacionados à penitenciária, motivada pela divulgação de irregularidades envolvendo a empresa R7 Facilities – Manutenção e Serviços.
Fraudes em licitações e esquema de empresas
A CGU identificou que empresas com ligações societárias, familiares e trabalhistas se associaram para manipular concorrências públicas. O esquema envolvia o uso de declarações falsas para obtenção de benefícios fiscais e a participação fraudulenta em licitações.

Foi constatado que o grupo utilizava “laranjas” como sócios para ocultar os reais proprietários das empresas, dificultando a fiscalização e ampliando sua atuação no mercado. Algumas dessas empresas mantêm vários contratos com a administração pública, incluindo a Polícia Federal.
A CGU informou que as irregularidades podem configurar crimes como frustração do caráter competitivo de licitação, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e estelionato contra a Administração Pública.
A fuga que deu origem à investigação
No dia 14 de fevereiro de 2024, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, em uma fuga inédita no sistema penitenciário federal brasileiro. Os presos abriram buracos atrás das luminárias de suas celas, saíram pelo teto e cortaram cercas de arame utilizando ferramentas de uma obra em andamento no local.
A ausência foi percebida cerca de duas horas depois, e as buscas se concentraram nas áreas rurais de Mossoró e Baraúna, ao longo da rodovia RN-015, próxima à unidade prisional.
Os fugitivos eram oriundos do Acre e haviam sido transferidos para Mossoró em setembro de 2023, após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos, incluindo três decapitações.
Ambos tinham vínculos com o Comando Vermelho, facção criminosa liderada por Fernandinho Beira-Mar, que também estava detido na unidade federal de Mossoró.
Busca e captura
A operação de busca durou 50 dias e mobilizou mais de 600 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional, além do uso de helicópteros, drones e cães farejadores. Durante a fuga, os criminosos invadiram três residências e fizeram reféns.
De acordo com investigações da Polícia Federal, a facção teria pago R$ 5 mil a um fazendeiro que auxiliou na fuga, permitindo que os fugitivos se escondessem em sua propriedade.
Eles foram recapturados no dia 4 de abril, em Marabá, no Pará, quase uma semana após a suspensão das buscas no Rio Grande do Norte.
Consequências da fuga
Após o episódio, o Ministério da Justiça substituiu a diretoria da penitenciária de Mossoró e reforçou a segurança das cinco unidades federais do país.
A fuga também resultou na revisão de contratos relacionados à penitenciária, levando às investigações que culminaram na Operação Dissimulo.
Foto: Divulgação/DEPEN/Ilustração
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