Trens urbanos da Grande Natal acumulam problemas: obras de estações paradas, ar-condicionado quebrado e viagens suspensas

Trens urbanos da Grande Natal acumulam problemas: obras de estações paradas, ar-condicionado quebrado e viagens suspensas

Por Thiago Martins – thiagolmmartins@gmail.com
Mobilidade em Pauta

Usuários enfrentam atrasos, falta de conforto e incertezas sobre obras e novas estações enquanto a CBTU não se manifesta sobre os problemas

O sistema de trens urbanos da Região Metropolitana de Natal, administrado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), passa por uma série de falhas operacionais e estruturais que têm comprometido o serviço ofertado aos usuários. Apesar dos anúncios de investimentos e promessas de modernização, as reclamações aumentam: composições com climatização inoperante, veículos com baixo desempenho, obras paralisadas e viagens canceladas fazem parte do cotidiano de quem depende do transporte ferroviário.

Nos últimos meses, relatos apontam que vários trens circulam com o ar-condicionado quebrado, o que torna o ambiente interno abafado e desconfortável, especialmente nos horários de pico. A coluna MOBILIDADE EM PAUTA circulou por dois dias nos trens que operam na Grande Natal e comprovou os problemas com ar-condicionado em veículos que operavam a linha Sul. Em outra viagem, além do problema na climatização, também constatamos que um dos VLT parece perder força em trechos de subida, atrasando o trajeto e causando receio nos usuários.

A Linha Sul, que liga Natal a Nísia Floresta, tem concentrado boa parte dos problemas. Além dos problemas relatados, nesta semana, viagens foram suspensas, e o intervalo entre as saídas aumentou. Em 2022, a própria CBTU reconheceu a retirada temporária de trens de operação para manutenção, afetando pelo menos seis viagens diárias. Em 2025, o problema voltou a se repetir em diferentes períodos do ano, agravado por panes mecânicas e falhas elétricas.

No caso das viagens canceladas nesta semana (quinta e sexta-feira, dias 30 e 31 de outubro), a CBTU alegou que a não operação ocorreu “devido a reparos a serem realizados a serem realizados em uma das composições do VLT”. O horário cancelado foi o que sai de 6h da estação Nísia Floresta, prejudicando milhares de usuários que utilizam a linha.

Novas estações e novos ramais: obras paralisadas

Além das falhas operacionais, as obras prometidas permanecem sem conclusão visível. Estações anunciadas em 2023 – como as de Capitão-Mor Gouveia (Cidade da Esperança), Baraúnas (Quintas), João Medeiros (Potengi) e Soledade – foram apresentadas como parte de um pacote de modernização de R$ 8,3 milhões, com promessa de novas estruturas e acessibilidade. Contudo, vídeos gravados por parlamentares locais mostram canteiros parados, entulho e ausência de trabalhadores, o que gera dúvidas sobre o ritmo das execuções.

A coluna MOBILIDADE EM PAUTA também esteve na obra da estação nova estação Cap. Mor Gouveia, localizada na esquina da Av. Capitão Mor Gouveia, e constatou que não havia trabalhadores no local, dando o aspecto de que a obra está sim paralisada. Em resposta à polêmica recente envolvendo políticos que estiveram no local e denunciaram a paralisação da obra, parlamentares afirmaram que a paralisação era “fake News”. No entanto, não foi essa a constatação. Além da construção da estação Cap. Mor Gouveia, também há relatos de paralisação da nova estação Baraúnas, no bairro das Quintas, também na zona Oeste da capital.

A placa da obra na estação Cap. Mor Gouveia informa que ela teve início no dia 1° de julho de 2025. O valor total é de quase R# 3 milhões. No entanto, não há informações de quando será o término da construção.

A nova estação deverá substituir o antigo ponto de embarque e desembarque – Estação Cidade da Esperança – localizado no bairro do mesmo nome, na zona Oeste de Natal. Por lá, a antiga estrutura está com a fachada pichada, com falhas de segurança e acessibilidade visíveis, concentração de lixo próximo à linha e sem qualquer oferta de conforto aos usuários.


Integração com sistemas de transportes

Enquanto isso, o projeto de bilhetagem eletrônica – que integraria o sistema de trens aos transportes urbanos dos municípios onde a CBTU opera – Natal, Parnamirim, Extremoz – ainda não saiu do papel. Até o momento, não há contrato publicado nem prazo confirmado para o início da operação digital. Passageiros continuam utilizando o sistema manual, sem integração tarifária com ônibus ou cartões de transporte.

Péssima estrutura das estações atuais

Outro ponto questionado é a infraestrutura das estações já em funcionamento. A situação da maioria dos locais é semelhante à estação Cidade da Esperança, relatada anteriormente. Em alguns casos, pode ser ainda pior, como na estação Alecrim II, que tem desnível entre a plataforma e os vagões, dificultando o embarque e aumentando o risco de acidentes.

Outro problema se dá em relação às futuras estações. A companhia anunciou, recentemente, que vai construir a estação Planalto, na zona Oeste de Natal. A possibilidade do novo local, no entanto, enfrenta críticas quanto à localização: a via de acesso é estreita, sem pavimentação e sujeita a alagamentos, o que pode inviabilizar o acesso de parte dos usuários.

Em paralelo, a CBTU alerta para falta de orçamento federal. Em documento encaminhado ao Ministério das Cidades, neste ano, a empresa indicou que o orçamento de 2025 sofreu redução significativa, de R$ 216 milhões para R$ 165 milhões, valor considerado insuficiente para manter o funcionamento normal dos trens urbanos em Natal e outras capitais do Nordeste. Na época, texto mencionou risco de paralisação total se não ocorresse a recomposição orçamentária.

Apesar dos investimentos anunciados – como R$ 92 milhões do programa Novo PAC para mobilidade ferroviária -, a execução prática e os resultados permanecem limitados. O sistema continua operando com intervalos irregulares, falhas técnicas e obras inconclusas. A ampliação da Linha Norte, que deveria incluir a ligação até o Aeroporto Internacional Aluízio Alves, segue sem cronograma definido ou informações públicas atualizadas.

Atualmente, a CBTU Natal mantém dois ramais ativos:

  • Linha Norte, com 38,5 km de extensão e 13 estações em operação, ligando Natal, Extremoz, São Gonçalo e Ceará-Mirim;
  • Linha Sul, com 39 km e 14 estações, conectando Natal, Parnamirim, São José de Mipibu e Nísia Floresta.

Mesmo assim, usuários relatam que parte dos horários tem sido suspensa e que a frequência dos trens caiu nos últimos meses, motivado por problemas nas locomotivas.

A realizou contato com a CBTU para obter esclarecimentos sobre as paralisações das obras, o funcionamento dos sistemas de climatização e o número de composições fora de operação. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta oficial da companhia.

Fotos: Divulgação/MOBILIDADE EM PAUTA

thiago martins

Sobre Thiago Martins, colunista do Por Dentro do RN

Thiago Martins é jornalista formado pela UFRN e há 15 anos dedica-se ao estudo e à cobertura do setor de mobilidade urbana. Escreve sobre o tema desde o início da carreira, colaborando com portais de notícias especializados e acompanhando de perto as transformações na mobilidade ativa, no setor de transportes e na infraestrutura urbana. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.

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