Por Thiago Martins – thiagolmmartins@gmail.com
Mobilidade em Pauta

A Coluna MOBILIDADE EM PAUTA recebeu novas denúncias sobre um transporte alternativo que atende a Coophab, na Grande Natal. Trata-se do veículo E2.28, que se tornou símbolo do caos e do abandono no transporte intermunicipal da Região Metropolitana de Natal. Além de operar em condições precárias, o alternativo foi flagrado circulando fora da rota original, transportando passageiros para o Centro de Natal, embora esteja registrado para operar na linha liga a Coophab à Rodoviária.


O flagrante reforça o cenário de desorganização e falta de fiscalização no sistema gerido pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Norte (DER/RN), permitindo que veículos irregulares não apenas circulem sem vistoria, mas também desrespeitem as próprias linhas às quais estão vinculados.
Um retrato da precariedade
Segundo relatos de passageiros e permissionários, o E2.28 apresenta uma lista alarmante de problemas: ausência de limpador de para-brisa, bancos soltos ou ausentes, buracos na parede interna, infiltrações, além de parte do para-choque frontal faltando.

Um dos aspectos mais graves é o elevador de acessibilidade bloqueado pela roleta, impedindo o embarque de cadeirantes. A situação configura uma violação direta das normas de acessibilidade e compromete a segurança dos usuários.
Irregular e fora da lei
O E2.28, fabricado em 2010, está fora do prazo de validade legal para operação no transporte intermunicipal. De acordo com o Decreto nº 27.045/2017, que regulamenta o Sistema de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros (STIP/RN):
- Veículos com mais de 25 lugares têm vida útil de até 13 anos;
- Os menores devem ser retirados após 10 anos de uso;
- Em caráter excepcional, até 30% da frota pode ultrapassar o limite, mas nunca com mais de 18 anos de fabricação.
No caso do transporte opcional intermunicipal, cada permissão corresponde a uma microempresa individual — ou seja, a regra dos 30% não se aplica. Isso significa que qualquer veículo com mais de 13 anos em circulação está automaticamente em situação clandestina, especialmente se não passou por vistoria nem possui ordem de serviço válida emitida pelo DER/RN.
Portanto, o E2.28 opera de forma irregular sob todos os aspectos: ultrapassou o limite legal de uso, não possui vistoria válida, e ainda circula fora da rota original.
Fiscalização inexistente
A ausência de fiscalização efetiva do DER/RN é apontada como o principal fator que permite esse tipo de irregularidade. Enquanto o órgão mantém silêncio sobre o tema, veículos em péssimo estado continuam rodando sem qualquer controle técnico ou documental.
Em edições anteriores, a Coluna MOBILIDADE EM PAUTA já mostrou que as linhas L1 e L2, ambas partindo da Coophab, figuram entre as mais problemáticas da Grande Natal, com grande número de veículos sem vistoria, fora do prazo de vida útil e em situação de risco para motoristas e passageiros.
Mesmo com denúncias recorrentes, nenhuma ação concreta foi adotada pelo órgão gestor para fiscalizar ou recolher os veículos irregulares. O resultado é um sistema em colapso, dominado pela clandestinidade e pelo improviso, onde cada permissionário atua sem controle e sem punição.
Risco constante aos passageiros
Os relatos de passageiros descrevem uma rotina marcada por insegurança e desconforto. Além de veículos com janelas travadas ou inexistentes, há registros de tampões improvisados no lugar dos vidros da porta dianteira, o que compromete a visibilidade do motorista e coloca em risco a vida dos passageiros e pedestres.
O retrato do descontrole
O caso do E2.28 é apenas um exemplo visível de uma crise mais ampla: a falência do modelo de fiscalização do transporte alternativo intermunicipal no RN. A circulação de veículos em estado crítico, com idade avançada e até fora da rota registrada, demonstra a completa ausência de comando e de responsabilidade pública sobre o sistema.
Fotos: Denúncias

Sobre Thiago Martins, colunista do Por Dentro do RN
Thiago Martins é jornalista formado pela UFRN e há 15 anos dedica-se ao estudo e à cobertura do setor de mobilidade urbana. Escreve sobre o tema desde o início da carreira, colaborando com portais de notícias especializados e acompanhando de perto as transformações na mobilidade ativa, no setor de transportes e na infraestrutura urbana. É proibida a reprodução total ou parcial deste texto sem autorização do autor e sem a inserção dos créditos, de acordo com a Lei nº 9610/98.
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