Uma conversa real sobre a cultura do bem estar, por Mariana Pires

Uma conversa real sobre a cultura do bem estar, por Mariana Pires

O bem estar legítimo parte da eliminação daquela lista interminável de tarefas ‘saudáveis’ que não fazem sentido algum pra você e que são ditadas por terceiros.

Por Mariana Pires
Para o Por Dentro do RN

Há uma cultura enraizada de que, se você faz muitas coisas ao longo do seu dia, você é ‘produtivo’ e tem resultados significativos; mas o que muitos não entendem é que há uma linha bem tênue entre o ‘posso fazer tudo’ e o ‘posso fazer DE tudo’.

Entender essa distinção é a chave para ter uma vida saudável. Para quem nunca praticou hábitos saudáveis, como esta que vos escreve, ou até mesmo não entendeu o quão importante são para alcançar resultados, sente que é um objetivo quase impossível de atingir. Ter uma rotina saudável e equilibrada parece coisa de outro mundo.

Confesso que sempre achei muito bonito aquelas pessoas que tinham uma rotina cheias de atividades. Lembro-me até de achá-los mais importantes porque aparentavam ter uma vida mais ocupada que a minha. E eu, que sempre fui tão desorganizada, olhava para tudo aquilo e via uma realidade distante de mim, uma realidade tão impossível de acontecer.

Eu não tinha visão, não tinha minhas próprias opiniões sobre determinados assuntos. Andava com pessoas que tinham hábitos tão ruins quanto os meus e a mesma visão de rotina que a minha. Sempre sonhei alto, no fundo eu queria ser uma daquelas pessoas que tinham a vida bem ocupada, preenchidas de atividades importantes.

Com o passar dos anos, me distanciei de algumas pessoas, busquei novas oportunidades de trabalho, foquei na construção de uma carreira, busquei crescimento profissional, que naturalmente é o campo que mais colocamos atenção nas nossas vidas. Sempre tive uma postura muito proativa e ousada, mas embora tivesse certa facilidade para tomar iniciativas sobre mudanças e melhorias no meu trabalho, a minha falta de organização pessoal e até mesmo a negligência que coloquei em outros campos da minha vida não me deram os resultados que tanto idealizei.

Demorei muito tempo para entender isso; e precisei passar por diversas situações de fracasso até parar e decidir voltar o olhar para mim e buscar entender o que estava deixando de fazer e onde eu precisaria mudar e melhorar. Para uma pessoa centralizadora, admitir que parte do não sucesso provém da falta de organização e de uma vida de hábitos ruins não é exatamente a coisa mais fácil de aceitar. Mas cá estamos, fazendo a necessária autocrítica.

Quando se quer muito conquistar um objetivo maior, é preciso olhar para as situações com um olhar muito transparente e franco sobre si e sobre as circunstâncias, aceitar o que precisa ser mudado e se comprometer com isso; e é aí que começa todo o processo de autodesenvolvimento. Quando, finalmente, temos o mínimo de clareza do que precisamos promover mudanças, começamos a buscar conhecimento e a melhorar os nossos hábitos: é um mergulho profundo e legítimo na mudança de estilo de vida.

O bem estar legítimo parte da mudança de mentalidade

O início de todo processo de autoconhecimento e desenvolvimento do nosso bem estar traz consigo um misto de sentimentos entusiasmados, cheio de grandes expectativas e uma sede ferrenha por resultados rápidos. Mas paremos para raciocinar: ora, se estou fazendo uma mudança radical na minha vida, não seria justo cobrar por resultados imediatos a curto prazo?

Nessa sede por esses resultados, a gente mergulha na busca por conteúdos de profissionais de diversas áreas, compra livros e cursos, faz imersões e desafios, inicia um casamento firme e forte com a vida fitness, faz meditação todos os dias, faz yoga, lê algumas páginas de um livro diariamente, estuda uma hora, faz a própria comida saudável, tem um momento com a família, cuida dos filhos, confere e reorganiza o planejamento para o outro dia, organiza todas as demandas da casa para começar o dia mais livre, é ativa nas redes sociais, se faz presente nas amizades, tem os momentos de lazer; e, não menos importante, ainda temos de ter os nossos momentos de autocuidado.

A gente inicia essa transição de estilo de vida enchendo nossas agendas de atividades que estão ‘na moda’ e que todo mundo que tenta se mostrar bem resolvido e feliz diz fazer. E não para por aí, a gente encaixa todas elas de uma única vez para serem feitas no dia e ainda se compromete a mantê-las a qualquer custo no cronograma, ainda que isso deixe tudo mecânico.

Chega o final do dia e temos duas sensações:

  1. Estou cansada, mas consegui fazer tudo e estou realizada;
  2. Estou cansada, não consegui fazer tudo e me sinto culpada por não cumprir o que planejei.

Você já se viu em alguma dessas situações?

Você não tem a sensação de que as práticas que nos ajudariam a criar hábitos saudáveis e uma vida mais leve e com mais significados acaba se transformando em uma exaustiva competição de quem é mais produtivo, de quem tem um estilo de vida mais atrativo que o outro?

A consequência disso é que chegamos em um momento em que a gente passa a realizar tudo no piloto automático. O que antes eram práticas que ajudavam no autodesenvolvimento, na conexão com nós mesmos, no aumento da performance e dos resultados, passam a ser uma obrigação diária de manter o mesmo ritmo dos outros dias. Quando não conseguimos cumprir tal agenda, é inevitável o sentimento de fracasso.

Ficamos para ‘trás’ em comparação com a rotina ‘perfeita’ das pessoas que idealizamos perfeitas. Com isso, é inevitável que não nos perguntemos: E vem a pergunta mais cobiçada dos últimos tempos: ‘como dar conta de tudo isso?’.

Com a mudança obrigatória que foi preciso promover em nossos estilos de vida, nos fizeram acreditar que deveríamos cumprir listas enormes de afazeres ‘saudáveis’ se quiséssemos acreditar que estávamos fazendo de algo importante por nós mesmos, nos cuidando de verdade.

A realidade é que criamos uma performance a ser realizada sem considerar as nossas emoções e nos forçamos a cumprir tudo mesmo sem estar nos sentindo bem. Fixamos nessa ideia de ter uma rotina saudável a qualquer custo e nem percebemos que mantê-la dessa forma pode está sendo tóxico pra nós.

Bem estar baseado no faça menos, mas faça por você

O conceito de ter uma vida saudável e produtiva está diretamente ligada ao significado e qualidade do que promovemos, não da quantidade de afazeres que realizamos. Não precisamos criar uma lista infinita de tarefas a serem feitas no dia e desafiar nossos próprios limites saudáveis para ter a satisfação de ter uma vida saudável e chegar ao final do dia completamente esgotado.

Para ter uma rotina saudável e mais leve, elimine aquela lista interminável de tarefas ‘saudáveis’ que não fazem sentido algum pra você. Escolha um ou dois rituais para serem feitos diariamente e dedique-se a eles com intenção. Viva esses momentos com presença e sinta como pequenos gestos podem fazer uma grande diferença no seu dia.

Pare de tentar fazer tudo com a ilusão de ser produtivo e passe a fazer o necessário com intenção e presença. Você vai perceber que o pouco feito com qualidade te proporcionará muito mais benefícios e bem estar. Você não precisa cumprir milhares de tarefas que não gosta para se sentir bem consigo mesmo; e isso não te faz inferior ou melhor do que ninguém, além de resguardar a sua saúde mental e a sua energia para o que realmente importa.

Faça menos, mas faça por você!
Seu desenvolvimento é uma caminhada e crescer demanda tempo e consistência.

Foto: Ilustração/Pinterest

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Sobre Mariana Pires, colunista do Por Dentro do RN

Mariana Pires Por Dentro do RN Gestão de Pessoas

Mariana Pires tem 28 anos, é formada em Gestão de Recursos Humanos pela UnP. Apaixonada por Desenvolvimento de Pessoas, atua como RH e como consultora na área de Organização Pessoal, promovendo liberdade através da criação de rotinas leves e produtivas.

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