Editorial POR DENTRO DO RN

A prefeita de Parnamirim, Professora Nilda, apareceu em meio à multidão durante a Marcha para Jesus 2025, realizada neste fim de semana na cidade. Ao lado da vice-prefeita Kátia Pires e da vereadora e filha, Rafaela de Nilda, a gestora posou sorridente para fotos, participou dos momentos de oração e fez questão de marcar presença em um dos maiores eventos de apelo popular do calendário cristão local.
O evento, como noticiado por veículos de imprensa, foi de fato um sucesso de público. Milhares de fiéis ocuparam as ruas com louvores, manifestações de fé e palavras de esperança. Mas, por mais simbólico que o ato tenha sido para a comunidade evangélica da cidade, não se pode ignorar o uso político-religioso da ocasião por parte da prefeita e de seu grupo familiar e político.
Não é de hoje que o editorial do Por Dentro do RN vem apontando a estratégia de marketing da prefeita Nilda em detrimento de entregas reais à população. Em um texto publicado recentemente, destacamos que a atual gestão se especializou em publicidade, aparições públicas e discursos bem ensaiados — enquanto os problemas de Parnamirim seguem se acumulando sem solução à vista.
A participação em um evento de fé não é, por si só, algo condenável. Ao contrário: é até desejável que lideranças estejam próximas da população e compartilhem de suas vivências. O problema começa quando esse tipo de presença passa a ser usado como cortina de fumaça para esconder a ausência de resultados concretos.
Aparentemente, a prefeita Nilda tem investido mais tempo em redes sociais e eventos do que em ações efetivas que transformem a realidade de Parnamirim. A saúde pública continua em colapso, com postos de atendimento sucateados e falta de médicos. A mobilidade urbana é um caos, principalmente na região de Nova Parnamirim, que cresceu sem planejamento e agora sofre com engarrafamentos, calçadas destruídas e ausência de transporte digno. A educação municipal também dá sinais de fragilidade, com relatos de infraestrutura precária em diversas escolas da rede.
Enquanto isso, vemos a prefeita e sua equipe ocupando espaços de grande visibilidade emocional — como a Marcha para Jesus — para reforçar uma imagem de proximidade, fé e carisma. A mistura entre religião e política, tão delicada, vem sendo usada como ferramenta eleitoral antecipada, criando uma narrativa de “gestora do povo” que não condiz com a ausência de resultados práticos.
E chama muita atenção a naturalidade com que isso é feito. Em vez de prestar contas à população, a prefeita distribui sorrisos em suas publicações nas redes sociais, cultos e eventos — como se isso fosse suficiente para suprir a falta de políticas públicas estruturantes. E o mais grave: a presença da filha vereadora e da vice-prefeita no mesmo palanque é também sinal de que o projeto de poder se expande em família, visando perpetuar-se no comando da máquina pública local.
O povo de Parnamirim merece mais do que marketing religioso. Merece obras entregues, hospitais funcionando, ruas asfaltadas, escolas seguras e transporte eficiente. A fé deve ser respeitada, mas jamais utilizada como escudo para encobrir ineficiência administrativa.
A Marcha para Jesus, evento legítimo e valioso para a comunidade cristã, não pode servir como palco de encenação para uma gestão que tem falhado em entregar o básico. É hora de os cidadãos pararem de se contentar com presença em eventos e começarem a cobrar ações de verdade.
A pergunta que precisa ser feita à prefeita Nilda é simples e direta: quantas escolas foram reformadas este ano? Quantas unidades de saúde receberam novos profissionais? Onde estão as obras de infraestrutura prometidas em campanha? Porque, por mais fé que a população tenha, ela não caminha só com orações. Caminha com dignidade, estrutura e respeito.
Enquanto isso não acontecer, o povo seguirá marchando — mas não em direção ao progresso, e sim à desilusão com mais um governo que prometeu muito e entregou pouco.
Foto: Reprodução
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram e mantenha-se informado.