O assassinato da jovem Kathlen Romeu, de 24 anos, vítima de uma bala perdida após tiroteio entre a PM e bandidos no Rio de Janeiro, escancara a seletividade da imprensa na hora de definir quais perdas são mais dignas de notas de repúdio e de protestos.
Fosse ela uma mulher grávida moradora dos Jardins, em São Paulo; de Tirol, em Natal; ou da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro; ou fosse Kathlen uma mulher branca, rica, representante da alta sociedade, como estariam as capas dos principais jornais do Brasil? Quantas pessoas sairiam às ruas para protestar contra a violência urbana?
Não… o erro de Kathlen foi engravidar e continuar morando em uma comunidade carente da Zona Norte do Rio, de estar no lugar errado e na hora errada; o erro dela foi ser negra, ter nascido pobre e sonhar em ser mãe, em almejar uma carreira como designer de interiores. Como ousaste, Kathlen?
Quis o descaso público com as vidas periféricas e a omissão da sociedade e da imprensa com o modus operandi da polícia nas comunidades carentes, verdadeiras praças de guerra entre polícia e bandidos, que colocar um fim nesse absurdo:
Kathlen, 24 anos, não está mais entre nós; o filho que esperava também não. Kathlen, agora, é só mais um número frio na estatística.