Tecnologia patenteada utiliza gelatina como base para produzir partículas magnéticas de níquel e cobalto com potencial biomédico
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) obteve a patente de um novo método para a síntese de nanopartículas magnéticas metálicas de níquel e cobalto, com aplicações potenciais no tratamento de câncer e na vetorização magnética de medicamentos. A invenção foi registrada sob o nome “Síntese de nanopartículas monodispersas metálicas de níquel e cobalto embebidas em uma matriz de gelatina”.
A pesquisa teve participação dos cientistas Marco Antonio Morales Torres, Thiago Tibúrcio Vicente e John Carlos Mantilla Ochoa, vinculados ao Programa de Pós-graduação em Física da universidade. O professor Marco Morales, do Departamento de Física, explica que a técnica utilizada para desenvolver as nanopartículas foi o método sol-gel, que transforma uma solução inicial em um gel, por meio da remoção da fase líquida.
Segundo o pesquisador, a matriz de gelatina foi escolhida devido à sua composição química, que favorece a interação com cátions metálicos dissolvidos em meio aquoso. “A gelatina contém grupos amino, tiol e carboxílico, que facilitam a solubilidade em água e a ligação com os íons metálicos”, afirma Morales.

As nanopartículas resultantes apresentam estrutura cristalina cúbica de face centrada e diâmetros médios de seis a sete nanômetros. Por serem metálicas, essas partículas possuem alto momento magnético, o que permite sua manipulação remota por meio de campos magnéticos. Essa propriedade torna viável seu uso em procedimentos biomédicos como a magnetohipertermia — técnica que utiliza campos magnéticos para aquecer seletivamente células tumorais.
Entre os usos potenciais citados pelos pesquisadores estão o direcionamento de medicamentos para áreas específicas do corpo, especialmente tumores, onde as partículas podem ser aquecidas localmente com a aplicação de um campo magnético alternado. Esse processo é estudado como estratégia complementar no combate ao câncer.

Além das aplicações na área da saúde, a invenção tem potencial em outros campos tecnológicos, como sistemas de armazenamento magnético de dados, catalisadores para a produção de hidrogênio, células solares e amortecedores de alto desempenho. O desenvolvimento da técnica levou meses de trabalho e contou com a colaboração direta dos três inventores na concepção, preparação de amostras e caracterização estrutural e magnética das nanopartículas.
O pedido de patente foi depositado em 2019 e a concessão confirma que a tecnologia atendeu aos três principais critérios exigidos: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Esses critérios garantem que a invenção é inédita, envolve um grau de criatividade técnica e pode ser utilizada na produção em escala industrial.
A Agência de Inovação da Reitoria (Agir) da UFRN é a unidade responsável por orientar e apoiar os pesquisadores durante todo o processo de proteção intelectual. Segundo o diretor da Agir, Jefferson Ferreira de Oliveira, o trabalho da agência inclui a intermediação de mentorias com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), além de orientações sobre a viabilidade de patenteamento de cada tecnologia.
“O apoio que oferecemos abrange desde a análise da possibilidade de patenteamento, conforme a Lei 9.279/96, até a promoção da transferência de tecnologia para empresas interessadas em licenciar o conhecimento gerado”, afirma Jefferson. Segundo ele, mesmo tecnologias que não possam ser patenteadas formalmente podem ser comercializadas através de licenciamento de know-how.
O processo de solicitação de patente começa com a notificação da invenção no SIGAA, no módulo de pesquisa, e pode resultar na proteção de ativos tecnológicos com elevado potencial de aplicação. A UFRN mantém parcerias com os próprios inventores para ampliar o alcance dessas tecnologias, por meio de sua rede de contatos e atuação em áreas estratégicas.
A patente das nanopartículas reforça o papel da universidade pública na geração de soluções técnicas aplicáveis a desafios sociais e industriais, especialmente nas áreas de saúde e inovação biomédica.
Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
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