Medida afeta fornecimento crítico para usinas nucleares norte-americanas e é resposta à proibição imposta por Washington; incertezas crescem sobre o futuro da importação de combustível nuclear
A Rússia anunciou nesta sexta-feira (15.nov.2024) a imposição de restrições à exportação de urânio enriquecido para os Estados Unidos (EUA), intensificando as tensões no setor energético e aumentando as incertezas sobre o abastecimento de combustível nuclear norte-americano. Em 2023, mais de 25% do urânio utilizado por reatores nucleares nos EUA veio da Rússia, país que desempenha um papel crucial na cadeia global de produção e enriquecimento de urânio.
De acordo com o governo russo, essas restrições são temporárias e foram implementadas em resposta à proibição de Washington sobre as importações de urânio russo. A medida foi oficializada no início do ano e incluía renúncias que garantiam o fornecimento até 2027, caso surgissem preocupações relacionadas à segurança de abastecimento. Agora, com a nova determinação de Moscou, o futuro do suprimento nuclear americano torna-se ainda mais incerto.
O contexto geopolítico que envolve essa disputa é complexo. A Rússia não só ocupa a posição de sexto maior produtor de urânio do mundo, mas também controla aproximadamente 44% da capacidade global de enriquecimento do material. Em 2023, os Estados Unidos e a China lideraram a lista de maiores importadores de urânio russo, seguidos por Coreia do Sul e França, o que ilustra a dependência significativa do mundo industrializado em relação ao setor nuclear russo.
A decisão da Rússia segue uma declaração do presidente Vladimir Putin, feita em 11 de setembro, quando sugeriu que o país deveria considerar a limitação das exportações de recursos estratégicos, como urânio, titânio e níquel, como forma de retaliação às sanções impostas pelo Ocidente. O decreto publicado nesta sexta-feira representa a primeira ação concreta com base no pronunciamento de Putin.
Em termos numéricos, a Rússia foi responsável por 27% do urânio enriquecido importado pelos EUA em 2023, uma dependência significativa para o setor nuclear americano. Dados indicam que, até julho de 2024, as importações norte-americanas de urânio russo somaram 313.050 quilos, representando uma queda de 30% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Não está claro se, após a entrada em vigor da proibição nos EUA em agosto, novas remessas foram realizadas.
Além disso, o governo dos EUA abriu uma investigação para apurar o aumento das importações de urânio enriquecido da China desde o final de 2023. Autoridades americanas estão preocupadas com a possibilidade de que o fornecimento chinês esteja sendo utilizado como um canal para que Moscou contorne a proibição sobre o combustível nuclear. A investigação adiciona mais uma camada de complexidade à questão, enquanto Washington busca entender as possíveis estratégias russas para mitigar as sanções.
Foto: Kremlin/Via Fotos Públicas
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