Investigação analisou o produto Infinity 12, amplamente utilizado para dores crônicas, e apontou a presença de substâncias sintéticas não declaradas no rótulo, elevando os riscos à saúde dos consumidores
A análise teve início a partir de um caso clínico registrado no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol/UFRN), em que uma médica geriatra observou melhora significativa em um paciente com dores crônicas após o uso do suplemento. A eficácia inesperada levantou suspeitas sobre a composição do produto, resultando em sua investigação científica.
Foram utilizadas técnicas de cromatografia em camada delgada (CCD) para comparar o perfil químico das cápsulas com padrões conhecidos de paracetamol, piroxicam, trometamol e diclofenaco sódico. A presença de paracetamol foi confirmada por cromatografia líquida de ultra eficiência (Clue) acoplada a espectrometria de massas de alta resolução.

Os testes também identificaram a presença de piroxicam, um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) comumente usado no tratamento de dores e inflamações. Ambos os compostos exigem controle e acompanhamento médico, devido ao risco de efeitos adversos como lesões gástricas, hepatotoxicidade e problemas renais.
Produto comercializado como natural exibe risco à saúde pública
O Infinity 12 é comercializado como suplemento natural, com ingredientes como cálcio de ostra, dolomita, canela-de-velho, castanha-da-índia e chapéu-de-couro. Entretanto, a presença de medicamentos sintéticos no produto, sem a devida informação no rótulo, configura adulteração e representa risco sanitário.
Segundo a professora Silvana Zucolotto, orientadora do estudo, o consumo de substâncias como os AINEs sem prescrição médica pode trazer complicações sérias, sobretudo para pessoas com doenças crônicas, alergias ou que façam uso contínuo de outros medicamentos. “É comum que pacientes acreditem estar consumindo um produto inofensivo, baseado em extratos vegetais, mas, na prática, estão se automedicando com fármacos não declarados”, afirma.

Ela destaca ainda a importância de diferenciar fitoterápicos regulamentados pela Anvisa de produtos adulterados. Os fitoterápicos legais passam por testes de segurança, eficácia e controle de qualidade. “A comercialização de produtos como o Infinity 12 prejudica a imagem dos fitoterápicos, que seguem normas rigorosas para serem aprovados e vendidos”, explica.
Adulteração não é caso isolado, aponta estudo complementar
A repercussão do estudo levou à publicação de uma segunda pesquisa, também orientada por Zucolotto. Intitulada “Análise de diferentes lotes do produto Infinity 12 adquirido por meio do mercado digital”, a investigação foi conduzida por Clebson da Silva Melo e se tornou a décima pesquisa mais acessada do repositório da UFRN.
Neste segundo trabalho, foram analisados lotes distintos do produto adquiridos online. Os resultados mostraram inconsistências na formulação, com diferentes substâncias sintéticas sendo encontradas a depender do lote, indicando ausência de controle de qualidade e padronização no processo de produção.
Popularidade da pesquisa revela interesse público pela segurança de suplementos
O número expressivo de acessos à pesquisa pode ser atribuído à crescente preocupação da população com os riscos associados ao consumo de produtos naturais adulterados. Segundo Maria Isabel Dutra Fonseca, autora do estudo, três eixos principais explicam o interesse: segurança e saúde; proteção e conscientização do consumidor; e a necessidade de regulamentação mais rigorosa.

As publicações do grupo PNBio têm alcançado repercussão nas redes sociais, contribuindo para a disseminação das informações. Parte dos dados também foi publicada na Revista Flora, periódico da Sociedade Brasileira de Farmacognosia, com linguagem acessível e voltada à educação do consumidor.
Fotos: Cícero Oliveira/UFRN
Siga o Por Dentro do RN também no Instagram e mantenha-se informado.