Descoberta utiliza nanopartículas de quitosana para reduzir efeitos colaterais e aumentar eficácia terapêutica
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) conquistou, nesta terça-feira (11.fev.2025), o patenteamento de uma nova substância pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A inovação é destinada à produção de soros contra venenos de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões, aranhas, abelhas e lagartas. A substância promete reduzir os efeitos colaterais em comparação aos imunoadjuvantes tradicionais, graças ao uso de nanopartículas de quitosana, um material biocompatível e biodegradável.
Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa, um dos responsáveis pela descoberta, destaca que a formulação pode salvar vidas humanas e animais, oferecendo um tratamento eficaz por meio de um soro inédito. “A composição farmacêutica patenteada tem alta aplicabilidade terapêutica e pode revolucionar o tratamento de acidentes com animais peçonhentos”, afirma o professor do Departamento de Farmácia da UFRN.

A pesquisa é resultado da tese de Karla Samara Rocha Soares, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Além de ser aplicável em humanos, a tecnologia também beneficia a área veterinária, com uso em caprinos e equinos. O novo imunoadjuvante ainda tem potencial para ser utilizado na produção de vacinas, ampliando seu impacto na saúde pública.
Importância dos soros antiveneno
Os soros contra animais peçonhentos são essenciais para prevenir sequelas físicas, neurológicas e mortes causadas por envenenamentos. Embora esses acidentes sejam mais comuns em áreas rurais, também ocorrem frequentemente em ambientes urbanos, especialmente com aranhas e escorpiões, que se proliferam devido ao desequilíbrio ecológico. Em 2023, o Brasil registrou 341.806 casos de acidentes com animais peçonhentos, um aumento de 16% em relação ao ano anterior.
Nanotecnologia e inovação
Arnóbio Antônio da Silva Junior, pesquisador em tecnologia farmacêutica e nanotecnologia, explica que a composição patenteada utiliza nanopartículas de quitosana reticulada com tripolifosfato, obtidas por gelificação iônica. Esse processo forma estruturas gelatinosas que carreiam as proteínas dos venenos, modulando sua liberação no organismo e melhorando a resposta imunológica.

“As nanopartículas permitem controlar a velocidade de liberação das moléculas e modular a resposta do organismo à imunização. Essa tecnologia foi essencial para desenvolver um novo adjuvante para soros antiveneno”, detalha Arnóbio. A invenção recebeu o nome de “Sistemas nanoparticulados de quitosana aplicados como imunoadjuvantes na produção de soros contra venenos de animais peçonhentos”.
Processo de patenteamento
O pedido de patente foi depositado em 2012, mas o processo é conhecido por ser demorado e complexo. Para ser aprovada, a invenção precisou atender a três critérios: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. A proteção legal da patente tem validade de 20 anos para patentes de invenção e 15 anos para modelos de utilidade.

Com essa conquista, Matheus Pedrosa se junta ao grupo de cinco cientistas com mais patentes registradas na UFRN. Ele ressalta que o patenteamento valida o conhecimento científico, impulsiona investimentos em pesquisa e facilita parcerias industriais. “A proteção das inovações promove a transferência de tecnologia e torna a instituição mais competitiva internacionalmente”, afirma.
Futuro da pesquisa
No Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica (Tecbiofar), onde os experimentos foram realizados, novas formulações estão sendo desenvolvidas com componentes isolados de peçonhas, com atividades antimicrobianas, antifúngicas e antitumorais. Um estudo recente identificou toxinas da peçonha do escorpião Tityus stigmurus com alto potencial biotecnológico.
Matheus Pedrosa destaca que a tecnologia patenteada está em fase de otimização e testes para liberação modificada, com o objetivo de avançar para ensaios clínicos. “As nanopartículas de quitosana demonstraram alta eficiência de incorporação e biocompatibilidade, sem efeitos adversos. Elas também apresentaram atividade antifúngica promissora contra cepas de Candida”, explica.
A próxima etapa da pesquisa inclui estudos clínicos amplos para validar o uso das nanopartículas em seres humanos, com foco no tratamento de infecções e doenças tropicais.
Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
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