Abner Moabe

Abner MoabeAbner Moabe tem 27 anos, é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e graduando em Ciências Sociais pela mesma instituição. Além disso, atua no projeto de educação e cultura Conexão Felipe Camarão e vem desenvolvendo projetos de pesquisa sobre a música do Rio Grande do Norte.

Sai de cena a guitarra violada de Paulo Rafael, por Abner Moabe

Sai de cena a guitarra violada de Paulo Rafael, por Abner Moabe

Ter uma identidade artística única é para poucos, independente de qual seja a linguagem. Na música, ter uma sonoridade que soe original depende de vários fatores; e, se Alceu Valença teve êxito nessa empreitada, muito se deve a Paulo Rafael, guitarrista, arranjador e seu fiel escudeiro por 46 anos, falecido hoje aos 66 anos após uma batalha contra o câncer.


Tendo iniciado sua carreira na banda Ave Sangria, que já apresentava uma sonoridade ousada numa mistura de rock psicodélico e música nordestina, Paulo Rafael e Alceu se conheceram numa noitada em Olinda, curiosamente na mesma noite em que Alceu conheceu de perto uma jovem bailarina que mais tarde ele a batizaria de “a moça bonita da praia de Boa Viagem”.

Mas é apenas em 1975 que a história dos dois no palco começou de fato; quando Alceu convidou o Ave Sangria para lhe acompanhar no festival Abertura defendendo a música Vou Danado pra Catende. A banda preferiu seguir sendo base para Alceu Valença e, ao longo dos anos, os músicos foram saindo, restando apenas Paulo Rafael.


Com exceção de Molhado de Suor (1974), todos os demais discos de Alceu Valença tiveram a presença da guitarra de Paulo Rafael; e é praticamente impossível pensar no que seria da música do artista de São Bento do Una sem seu o parceiro guitarrista. Paulinho, como era carinhosamente chamado, foi o a cara e o som da guitarra nordestina e deu a sonoridade que transformaria Alceu em um ícone da música brasileira; e isso é um das coisas que mais chama a atenção. Paulo Rafael nunca foi de procurar os holofotes, preferia ficar ali do lado direito do palco com a sua guitarra fazendo o necessário para que a Alceu e a sua música fossem as estrelas. E conseguiu.


Vai ser difícil ouvir o riff inicial de Anunciação com a mesma emoção. Eu costumava dizer que, provavelmente, os dedos de Paulo Rafael já faziam esse solo automaticamente de tanto que ele tocou essa música na vida; sem contar em outras tantas linhas de guitarra e solos marcantes que absolutamente todo e qualquer brasileiro já ouviu mesmo sem querer. Como li mais cedo, quem é fã de Alceu é fã de Paulo Rafael mesmo que não saiba, pois ele entrou para o seleto rol dos que conseguiram o feito de tocar o coração de uma nação tão heterogênea como a nação brasileira.


Se tantas vezes sua guitarra anunciou a chegada numa manhã de domingo, No Romper da Aurora de uma segunda é que ele nos deixa e eu apenas agradeço cantando:


“Quando o sol beijar a lua
E a lua for embora
Entro na rua do Sol
Dobro na rua da Aurora
Meu amor eu vou chorando
É chegada a nossa hora
Meu bem já vou embora
Vou, eu vou
No romper da aurora
Vou que vou”

Ao mestre Paulo Rafael, toda a minha reverência!

Foto: Reprodução/Instagram

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Além de Paulo Rafael e Alceu Valença, Abner Moabe também fala sobre cultura brasileira, MPB e artistas potiguares no Por Dentro do RN

Abner Moabe fala sobre Paulo Rafael no Por Dentro do RN

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A cultura que revela os melhores instintos

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Abner Moabe escreve

A cultura que revela os melhores instintos

Abner Moabe escreve: longe de qualquer romantização dos velhos clichês do “sou brasileiro e não desisto nunca”, é preciso sempre ter em mente que a cultura é o que nós temos de mais valioso e é ela que mantém esse país vivo e de pé, apesar de tudo.

Em um artigo escrito em 29 de dezembro de 1861, Machado de Assis teceu uma crítica a uma abertura de crédito suplementar ao Ministério da Fazenda, mas o motivo que lhe levou a escrever tal artigo não é o que quero destacar e, sim, uma frase que consta neste e que considero importante trazer à tona nesse momento: “o país real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.

A frase destacada no parágrafo anterior foi evocada por Ariano Suassuna em uma de suas aulas-espetáculos, mais especificamente no momento em que ele conta o episódio em que foi questionado pela esposa de um homem rico durante um jantar se ele “naturalmente” já teria ido a Disney, e sua interpretação da frase de Machado de Assis é a que eu considero a mais precisa e que eu trago aqui: o país oficial é o dos privilegiados e o país real é o povo.

O antropólogo Darcy Ribeiro dizia que “o futebol é o único reino em que o povo sente a sua pátria” e, quando questionado sobre qual o seu clube do coração, ele se dizia “flamenguista, por demagogia, já que o povo é Flamengo”. Trago o exemplo do futebol, contudo, podemos ampliar não só para outros esportes, mas também para as mais diversas manifestações daquilo que se pode considerar como cultura popular brasileira, entendendo cultura no seu mais amplo conceito de conjunto de valores, costumes e expressões.

Temos acompanhado, nos últimos dias, as disputas esportivas nos jogos olímpicos de Tóquio e não é raro ver nas redes sociais pessoas depositarem em atletas brasileiros e brasileiras alguma esperança de alegria diante da situação caótica em que o Brasil vive, em diversos aspectos e em sua grande maioria por reflexo do catastrófico governo Bolsonaro – que não se resume apenas ao não-combate a pandemia, como também o seu total descaso para com o povo, governando exclusivamente para o benefício do que o sociólogo Jessé Souza tão bem denomina de “elite do atraso”.

Sempre tive o esporte como um “irmão-gêmeo” da arte. Ambos conseguem despertar as mais diferentes emoções no ser humano, possuem um grande potencial de transformação social e são capazes de revelar os nossos melhores instintos, como declarou Machado de Assis; ambos também ajudam a constituir a cultura que nos faz lembrar da potência solidária que é o Brasil real, como tão bem declarou Gilberto Gil quando conceituou o do-in antropológico, inspirado na técnica de automassagem oriental, para “avivar o velho e atiçar o novo”.

Longe de qualquer romantização dos velhos clichês do “sou brasileiro e não desisto nunca”, é preciso sempre ter em mente que a cultura é o que nós temos de mais valioso e é ela que mantém esse país vivo e de pé, apesar de tudo. Como escreveu Fernando Brant e musicou Milton Nascimento em seu Credo: “tenha fé no nosso povo que ele resiste”.

É o Brasil real, do povo, que realmente importa!

Foto: Giulia Portelinha / Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

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Sobre Abner Moabe, colunista de Cultura no Por Dentro do RN

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