Por Mariana Pires
Para o Por Dentro do RN
Lembro-me de quando eu era criança e, durante as minhas brincadeiras, eu dizia que seria uma aeromoça. Eu falava isso com muita convicção, mesmo não entendendo muito bem o que uma aeromoça exercia, além do fato de que ela viajava por vários lugares em um único dia, tendo contato com muitas culturas e conhecendo pessoas diferentes o tempo todo; além de se vestir de um jeito único e elegante, esboçando sempre um bonito sorriso. Esse contexto todo me encantava.
No começo, eu não entendia muito bem por que essa visão de aeromoça me encantava tanto. O tempo foi passando, fui evoluindo no jardim de infância, no Fundamental e no tenebroso Ensino Médio. Sim, tenebroso mesmo: o ano no qual eu deveria definir o que queria ser pelo resto de toda a minha vida. Nesse momento, você espera que eu diga: aviação, comissária de bordo e está tudo resolvido. Mas não, a essa altura eu nem me recordava mais do sonho de criança.
Eu só pensava no seguinte: escolher um curso bom (leia-se, na época, um curso que “dava” dinheiro), fazer a faculdade, conseguir um bom emprego que me proporcionasse a tranquilidade de uma estabilidade; em seguida, casar, constituir uma família e aproveitar o que o meu emprego feliz e a minha família pudessem me proporcionar. Isso era o sinônimo da definição de sucesso ou, em outro caso, prestar um concurso. Essas eram as opções apresentadas para se ter uma “vida tranquila”.
Não acredito que essa visão esteja errada, pelo contrário, ela funciona muito bem para alguns e é possível construir uma carreira e realizar os sonhos de vida por meio dela. Só que ela não é a única opção de crescimento, há outros caminhos; caminhos os quais proporcionam uma maior liberdade de escolhas e experiências. E foi nesse momento que eu entendi o meu desejo de ser uma aeromoça: eu simplesmente não me encaixava nos padrões normais que geralmente definem o que é sucesso.
Embora eu não tivesse considerado seguir a profissão, ela significava liberdade pra mim. A facilidade de ter contato com a maior quantidade de experiências possíveis, de poder absorver muito mais conhecimento por meio de pessoas diferentes e de culturas igualmente diferentes. Eu não precisaria ser uma aeromoça pra viver essa experiência, precisava apenas encontrar uma forma diferente de construir a minha carreira sem me encaixar em um padrão específico ou ter uma profissão para a vida inteira.
Esse modelo tradicionalista de construção de carreira teve solo fértil por muito tempo, uma vez que é um aspecto cultural dos nossos tempos; mas, a medida que as inovações avançam, esse formato de vida se redesenha. Com o tempo, percebemos que não era nada daquilo que queríamos de verdade e, no meio da jornada, fazemos uma transição de carreira.
Hoje, as nossas carreiras não são mais definidas apenas por nossas competências e cargos, mas por ciclos constantes de aprendizados, experiências e desenvolvimento de novas habilidades, que nos fazem ter contato com mais áreas, mais pessoas e mais culturas.
Essas experiências ampliam o nosso leque de referências, criam novos julgamentos, nos apresenta a novas perspectivas, a novas ferramentas, abrindo espaço para conectá-las com assuntos diferentes das nossas competências e criando novas oportunidades, novas necessidades, e, por fim, nos fazendo pensar fora da caixa.
As contínuas transformações exigem de nós uma capacidade de adaptabilidade maior. O desenvolvimento pessoal e profissional se tornaram um só, indissociáveis. Não podemos falar das nossas competências profissionais sem considerar a nossa marca pessoal como grande aliada da nossa percepção de valor. É uma via de mão dupla que se retroalimenta a todo momento.
“A faculdade te dá um diploma, não uma carreira”. Ouvi essa frase recentemente e ela faz muito sentido. Continuamos a escolher o curso que vai nos dá uma profissão com o mesmo afinco de antes; só que, diferente daquela época, passamos a escolher o que faz mais sentido pra nós, o que abre um oceano de possibilidades diante de nossos olhos. Não optamos apenas pelo dinheiro ou pela estabilidade, mas pelas oportunidades que podem ser geradas e pelas conexões que podemos fazer.
O fato é que podemos começar atuando fielmente ao que é proposto pela profissão, mas, a medida que vamos evoluindo em nossas habilidades, abrimos espaços para novas atuações. Me citando como exemplo novamente, comecei atuando em setores de RH em empresas, onde ainda permaneço; mas abri o meu leque e usei a minha bagagem para expandir, levar o conhecimento para mais longe por meio da consultoria. Eu, Mariana Pires, tenho muitos outros planos que abrem ainda mais esse leque, usando todas as ferramentas e competências adquiridas pelo caminho, sem deixar de me conectar a novas necessidades.
Meu ponto com você é: na vida, você não é mais uma coisa, você está sendo alguma coisa.
Com o dinamismo e a velocidade que as coisas evoluem, nossas aptidões também se defasam mais rápido. Se, antes, nós precisávamos apenas fazer um curso de 5 anos para exercer as nossas profissões, hoje precisamos nos manter em constante processo de aprendizagem além dos métodos tradicionais. O conhecimento, mais do que nunca, é uma necessidade vitalícia. Não apenas para nos manter em competitividade, mas também para nos manter conscientes das nossas evoluções enquanto indivíduo que vive em sociedade.
Hoje posso estar no escritório, amanhã em uma sala de aula. Hoje, posso está nas redes sociais e, amanhã, ministrando uma palestra. Percebe? Nada é fixo ou permanente.
É como dançar conforme a música: nós vamos abraçando os novos formatos de aprender e de executar, vamos explorando as nossas habilidades e quebrando barreiras que, antes, nos limitavam e, agora, nos impulsionam a crescer ainda mais. Isso é autoconhecimento na prática, a forma prática de sair da zona de conforto. Tudo é mutável, transitório e escalável.
É possível dividir o espaço do novo com a previsibilidade do que encontraremos ao final da jornada. Nem 8, nem 80. Sem impulsividade ou paralisia, mas com a convicção suficiente para atender os nossos desejos e nos sentir motivados a ser mais exploradores, e não apenas pessoas que buscam estabilidade.
Por fim, a única certeza de estabilidade que temos é a instabilidade. Baixar as barreiras de resistência sobre as mudanças é a forma mais inteligente de crescer e se sentir livre. Experimente!
Foto: Reprodução/Mathisa/Shutterstock
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Sobre Mariana Pires, colunista do Por Dentro do RN
Mariana Pires tem 29 anos, é formada em Gestão de Recursos Humanos pela UnP. Apaixonada por Desenvolvimento de Pessoas, atua como RH e como consultora na área de Organização Pessoal, promovendo liberdade através da criação de rotinas leves e produtivas.
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