Pesquisa aponta que mulheres são mais afetadas e que acesso à rede de atenção psicossocial ainda é um desafio
Uma pesquisa do Ministério da Saúde divulgada nesta quarta-feira (12.jan.2024) aponta que Natal registrou um aumento de 1,4% nos casos de depressão em dois anos. Em 2023, a capital potiguar tinha 13,2% de adultos com a doença, o que representa cerca de 117 mil pessoas. Em 2021, o percentual era de 11,8%.
O estudo também mostrou que as mulheres são as mais afetadas pela doença. Em 2023, elas representavam 17,3% dos casos de depressão diagnosticados em Natal, enquanto homens respondiam por 8,5%.
Fatores que contribuem para o aumento dos casos
Segundo a psicóloga Sarah Oliveira, preceptora do Instituto Santos Dumont, existem alguns fatores que podem contribuir para o aumento dos casos de depressão em Natal. Ela cita a maior procura por atendimentos terapêuticos, principalmente devido à pandemia, quando a conscientização sobre saúde mental foi um tópico frequentemente debatido.
“Temos os fatores contextuais, nossas histórias de vida, nossos contextos sociais, fatores socioeconômicos, o fator conhecimento, de saber que você pode buscar ajuda, tudo isso tem um peso muito importante. O aumento desses números, apesar de poder chocar, ao mesmo tempo significa que as pessoas estão buscando mais essa ajuda, então esse é um fator a ser levado em consideração”, explica.
A psicóloga acrescenta que a ausência de uma rede de apoio, aspectos que envolvem qualidade de vida individual e o adoecimento crônico são também características que aumentam a chance do desenvolvimento de uma doença mental.
Desafios para o tratamento
Mesmo com o aumento nos casos de depressão, Oliveira reforça que ainda existem barreiras para o tratamento da doença. O acesso à rede de atenção psicossocial, apesar de ser garantido por lei, apresenta dificuldades. Há uma demanda alta de pacientes, acima da capacidade de atendimentos, o que, para a profissional, implica em um cenário de subnotificação de diagnósticos e representa um dos principais obstáculos para o cuidado de pessoas com depressão.
“São comuns casos em que o acesso à psicoterapia aconteça com menos frequência do que o necessário, ou que o diagnóstico seja dado por outras especialidades. O usuário não consegue chegar ao psiquiatra para que se iniciem outros tipos de intervenções. Quando o usuário continua exposto ao que influencia esse transtorno, isso se torna uma dificuldade a mais quando essa pessoa começa, eventualmente, a intervenção”, avalia.
Cuidado em rede
A psicóloga Sarah Oliveira destaca a importância da rede de apoio para o cuidado de pessoas com depressão. Ela explica que a socialização de informações sobre a doença e sobre as possibilidades de tratamento, principalmente dentro de ciclos de amigos, família e colegas, é fundamental para “ventilar” a ideia de desmistificação da depressão.
“É importante que a gente tenha uma rede de apoio que fale sobre isso. Falar sobre depressão é muito importante, para que entendamos que se trata de um adoecimento e que há várias possibilidades de tratamento. Não basta que a pessoa procure ajuda, mas que nesse entorno, ela tenha esse acolhimento, esse cuidado dos familiares, do companheiro, dos filhos”, pontua.
Janeiro Branco
O primeiro mês do ano marca a campanha do Janeiro Branco, voltado para discutir a conscientização sobre saúde mental e emocional. Em todo o país, a busca por mobilização envolve múltiplos agentes, desde organizações e instituições até profissionais da saúde e membros da sociedade civil, no reforço ao cuidado e prevenção de doenças como depressão, ansiedade, pânico, transtornos de humor e outras condições psíquicas.
A quebra de estigmas e o incentivo ao diálogo são os principais pontos de atuação da campanha. Mais informações podem ser acessadas no Instituto Janeiro Branco.
CVV
O Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação).
Foto: Ascom ISD/Ilustração
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